SAUDADE DOS 80 (parte 1)

HOLA!


Nasci em 1976. Minha infância e parte da adolescência foram vivenciadas em plenos anos 80. Uma época de transição que saía dos loucos anos 70 e seus hippies e a Guerra do Vietnam para depois chegar à nossa globalização atual.

Historicamente o mundo ainda temia uma provável guerra nuclear, já que as fronteiras pós-guerras eram partilhadas entres duas superpotências: a socialista UNIÃO SOVIÉTICA e o capitalista ESTADOS UNIDOS, período conhecido como Guerra Fria.

Após tomar posse como presidente da URSS em 1985, Mikhail Gorbatchov e o então presidente americano Ronald Reagan iniciaram um processo de aproximação que culminou com um tratado para redução da produção de armas nucleares em 1987. O símbolo dessa guerra ideológica e imperialista, O Muro de Berlim, é derrubado em 1989, marco histórico que ratificou a supremacia da política capitalista americana em relação à estatização dos países socialistas.

"Terrível! Esta fronteira de pedra ergue-se... ofende/ os que desejam ir para onde lhes aprouver/ não para um túmulo de massa/ um povo de pensadores." (Volker Braun, 1965)

Ainda vi o Brasil no regime militar e uma das coisas que mais me marcava era aquela semana do presidente apresentada todo domingo pelo SBT. Era tão alienada que nem sabia que o Figueiredo foi imposto para nós. Passei em branco pelas Diretas Já e só prestava atenção na cara de múmia do Ulysses Guimarães. Por sinal, eu achava que ele morrera e tinham esquecido de enterrar. Era um bom político, espécie rara dentre os nossos representantes.

E a morte estranha e e ainda comentada e especulada do Tancredo Neves? O diagnóstico era de uma diverticulite que complicara com sepse e falência múltipla dos órgãos, mesmo após ser submetido a várias intervenções cirúrgicas. Não sei se Tancredo melhoraria a condição econômica do nosso país, mas acho que essa retomada da democracia em suas mãos seria melhor do que como foi.

Assumiu Sarney, típico coronel nordestino, que conseguiu aumentar seu mandato para cinco anos, além de complicar ainda mais nossa situação econômica com os planos cruzado, cruzado novo, plano Bresser, plano Verão. Inicialmente, até que a inflação reduziu, mas o congelamento dos preços e dos salários criou uma supervalorização de alguns produtos e o tiro saiu pela culatra. A economia não foi estabilizada, a dívida externa aumentava assim como especulação financeira e os sinais de hiperinflação. A recessão econômica, que vinha desde o governo Figueiredo com o final do milagre econômico, era consolidada.

A nova constituição foi promulgada em outubro de 1988. Destacava-se, principalmente, o aumento dos direitos trabalhistas. Estávamos, finalmente, sendo apresentados a redemocratização do nosso país.

Em 1988, tivemos a primeira eleição direta para presidente após 29 anos. E nunca houve tantos candidatos. Lembram? Surgem nomes como o do nosso atual presidente Luís Inácio Lula da Silva, Ulysses Guimarães, Paulo Maluf, Guilherme Afif Domingos (JUNTOS CHEGAREMOS LÁ... Lembram dos polegares para cima e juntos?), Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado, Roberto Freire, Leonel Brizola, Mário Covas e Fernando Collor de Mello.

No segundo turno, o playboy alagoano desbanca o metalúrgico após revelações pessoais deste nem tão bombásticas, mas que destabilizaram sua campanha, mesmo ele contando com apoios multipartidários. O que vemos a seguir é a tal modernidade econômica do Collor se transformar em dinheiro surrupiado das nossas contas, deterioração do cinema nacional, muita corrupção e mais pobreza. Mas isso já é anos 90...

A catástrofe de Chernobyl na URSS e do césio-137 em Góias mataram e ainda matam muita gente e eu ainda nem percebia como a TV adora essas tragédias e ultrapassa o limite da notícia e chega ao melodrama e ao sensacionalismo. E o pior: o público adora e dispara o ibope.

Em 1986, estava empolgada por finalmente ver uma nave espacial subindo ao céus. Queria ser astrônoma e trabalhar na NASA, pode? Mas o que vi não era definitivamente o que esperava. Tinha adquirido um carinho pela professora que estava na nave, sofri muito por ela e pelos demais... Do belo ao horror em segundos, assim é nossas vidas.

Nem me falem do Halley. Toda vez que penso que toda aquela euforia era pra ver aquele rastrinho de luz no céu, fico completamente injuriada. A mídia em cima da passagem do cometa foi tão grande, até mais que ele mesmo. Bem anos 80!!

Nos anos 80, houve um crescimento da chamada classe média que cada vez conhecia o significado do consumismo e menos de cidadania. E viva o consumismo: televisores enormes, videocassetes, videogames, nosso querido vinil. Os canais de TV e as novelas iluminam mansões, apartamentos, favelas, uma comunhão da massificação. Os cinemas tornam-se mais acessíveis, grandes filmes, hoje cults e clássicos. Nosso rock surge forte e talentoso. Nossos armários e estantes enchem-se de livros da coleção Vaga Lumes, Vivi Pimenta, brinquedos da Estrela, álbuns de figurinha e muitos quadrinhos.

As mulheres cada vez mais alcançam seu lugar ao sol, bons empregos e há uma busca desenfreada por dinheiro. As bolsas de Wall Street ficam aglomeradas de jovens workaholics engomadinhos com gel no cabelo, os yuppies, que buscam compulsivamente conquistar seu primeiro milhão de dólares antes dos trinta. Surgem tribos comos os punks e darks. O exagero das roupas e acessórios com suas cores reluzentes eram reflexo de uma década que não houve revoluções de comportamentos ou conquistas sociais e o sexo livre e plural dissemina uma doença que muitos não conheciam e iriam temer: a AIDS.

Nos esportes, nosso futebol criou um time fora de série (Zico, Falcão, Sócrates, Júnior, Cerezo etc) na copa de 1982, mas a maldita e fraca Itália e o carrasco Rossi nos tirou o caneco; em 1986 até Zico, nosso galinho de ouro, perdeu um pênalti.

Conhecemos velocistas fenomenais como Joaquim Cruz e Robson Caetano e nosso vôlei nos apresentou a primeira geração de gênios nas quadras: Bernard e sua jornada nas estrelas, Renan, Montanaro, William, Bernardinho, Xandó, Maracanã conquistaram a prata na Olimpíada de 1984 em Los Angeles.

Os anos oitenta são o símbolo do que chamamos de brega? Concordando ou não, foi uma época mágica, nostálgica e deveras deliciosa. Assistam ao divertido Afinado no amor (Wedding Singer) com o Adam Sandler e a Drew Barrymore e me respondam depois.

Se pensam que terminou por aqui, tem muito mais...

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Frase do dia:

I`ve seen things you people wouldn`t believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die. (Roy Batty (Rutger Hauer) em Blade Runner).



HASTA!