setembro 19, 2004

Dando um tempo na solidão, mas não muito distante dela... A VILA

HOLA!




Uma frase que sempre costumo ouvir... " Ah, crítico gostou, Karinne também gosta e o inverso também é verdadeiro". Mas como dizia minha temível professora de Português e Redação... "Toda regra tem exceção"... Eu sei que geralmente vou ao encontro das idéias dos críticos, mas não sou manipulada pelas suas opiniões. Um exemplo claro é A Vila.

Quarto filme do M. Night Shyamalan, que fez também os ótimos Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais, conseguiu aqui chegar ao ápice da sua carreira cinematográfica. O filme retrata o cotidiano de um grupo de habitantes de um pequeno vilarejo no século 19. Escondidos por uma mata sufocante, eles vivem com seus próprios recursos, produzindo tudo que ullitizam. Todavia aquela aparente calmaria está prestes a ruir, já que o antigo pacto com as criaturas da floresta foi quebrado. Com sua direção segura e talentosa, Shyamalan faz com que o ar dos nossos pulmões fiquem rarefeitos de tanto hiperventilarmos de apreensão e temor... Animais silvestres mortos cruelmente, marcas de vermelho nas portas, nada será como antes...

Com uma bela direção de arte e contando com a simbiose perfeita entre Shyamalan e James Newton Howard, sua direção cria um ar de suspense e mistério semelhante ao nosso alvoroço em chegar à última página de um bom livro.

Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver, Brendan Glesson e a novata e não menos talentosa Bryce Dallas Howard são alguns dos misteriosos habitantes dessa cidadela. Agora compreendo porque o Lars Von Trier confiou o papel central da continuação de Dogville, Manderlay, a essa garota. Em uma interpretação sutil, sem os cacoetes habituais dos cegos no cinema, contudo forte, ela consegue se sobrepor até os mais experientes como Hurt e Weaver. Weaver, por sinal, está bem longe da nossa idolatrada Ripley, mostrando que não é uma atriz de um personagem só. Brody consegue não cair na caricatura dos doentes mentais e nos revela que o Oscar às vezes é justo. Hurt humaniza tanto seu personagem, que até mesmo compreendemos suas motivações após abertura da caixa de Pandora.

Phoenix merece um páragrafo só pra ele. Contido, trabalhando com gestos e olhares, nos encanta com aquele típico garoto do lado, introspectivo, misterioso, com um ar teoricamente blasé, mas de atitudes absurdamente altruístas, facilmente apaixonante. Irmão do saudoso River, o patinho feio portador de lábio leporino, cresce quando as câmeras se ligam. No seu primeiro filme de destaque, estrelado por Nicole Kidman, faz um papel denso e chama atenção da crítica. Sempre tentando fazer o papel de anti-galã, em personagens politicamente incorretos, ou mesmo notórios vilões, fez o caminho inverso do seu irmão e, mesmo assim, confirma o talento genético. Indicado ao Oscar por Gladiador, foi injustamente esquecido pela sua atuação no ótimo Os contos proibidos do Marquês de Sade, onde vive um padre bondoso, apaziguador, diretor de um asilo de loucos, amigo confidente do Marquês e que nutre um amor proibido pela lavadeira do asilo vivida com brilhantismo por Kate Winslet. Se formos olhar a transformação do personagem de Phoenix durante o filme, vimos quão grande ator ele se tornou e já entregaríamos de bandeja aquele homúnculo dourado que um dia,certamente, será seu.

E é o personagem de Phoenix o divisor de águas do filme. Após certos acontecimentos, segredos revelados, vemos que aquela vila está mais perto do nosso cotidiano do que pensávamos. Torna-se explícito a paranóia que a violência, a ganância, o individualismo exacerbado geraram. Somos alimentados pelo medo, nos prendemos em nossas casas, construímos muralhas da China, isolamo-nos... Câmeras de vídeo, blindagem, cerca elétrica, alarmes, armas, terrorismo, guerras... Tornamo-nos isolados, sufocados e alienados.

E a partir da abertura da caixa de Pandora, recordei-me de Dogville e Tiros em Columbine... Não podemos fugir de nós mesmos, das nossas raízes, da nossa cultura, da nossa essência. Concretos, paredes, matas nunca irão nos proteger de nós mesmos.


HASTA!