janeiro 29, 2005

SAUDADE DOS 80 (parte 12)

HOLA!


Pode amar ou odiar, mas não há como negar que, depois do futebol, o entretenimento mais popular do Brasil são as N-O-V-E-L-A-S. E também não há como negar que a melhor infra-estrutura está na Globo. E é uma pena ver um gênero despretensioso e divertido decair tanto. E o que nos resta são as minisséries, essas sim remanescentes da qualidade que tanto havia nos anos 80.

Das três novelas atuais, a única que ainda se sobressai é a Senhora do Destino, apesar de ser um grande dramalhão e historicamente incoerente. Uma ou outra novela se destacam tal como o remake de Cabocla, Celebridades, Chocolate com pimenta, O cravo e a rosa, O Clone e a popularidade irrefutável das novelas do Manoel Carlos.




Em 1980, a Globo transformou em série a famosa novela O Bem Amado (1973) que era protagonizada pelo grande e saudoso Paulo Gracindo. Quem não se lembra do Odorico Paraguaçu, do Zeca Diabo e das Irmãs Cajazeiras?

Já em 1981, o seriado Amizade Colorida tentou suprir a carência do público pelo término do seriado Malu Mulher em dezembro de 1980, entretanto foi considerado avançado pra época, censurado e não obteve boa aceitação. Já a série Obrigado, Doutor estrelada por Francisco Cuoco agradou ao público. Com um foco na questão da saúde, abordava vários temas como epidemias, acidentes de trabalho, a falta de recursos nos hospitais, além da relação de afeto entre o Dr. Rodrigo Junqueira (Cuoco) e os moradores da pequena cidade.

Em 1982, Lampião e Maria Bonita ficaram imortalizados graças à soberba atuação de Nelson Xavier e Tânia Alves, respectivamente. Quem não se emocionou com a cena final da tocaia? Foi a primeira experiência da Globo com o formato de minisséries e já saiu premiada com a medalha de ouro do Festival de Filmes e Televisão de Nova York.

Ainda em 1982, foi lançado o programa Caso Verdade, uma série com histórias semanais baseadas em casos verídicos. Fez bastante sucesso e durou até 1986.

Em 1983, depois do sucesso do Luiz Gustavo na novela Elas por elas (1982), seu personagem, o detetive Mário Fofoca, ganhou um seriado próprio.

Em 1984, os grandes e saudosos Walter George Durst e Walter Avancini nos presenteiam com duas ótimas minisséries ambas protagonizadas por Ney Latorraca. Em Rabo de Saia, Latorraca vive o caixeiro-viajante Quequé, um malandro que tem que dar conta de três famílias em três estados diferentes. Para Quequé, a mulher ideal era a soma das suas três esposas vividas por Dina Sfat, Tássia Camargo e Lucinha Lins. Já em Anarquistas graças a Deus, adaptação do livro homônimo de Zélia Gattai, mostra-se a adaptação da família Gattai no Brasil aos olhos da filha Zélia. A química entre Ney Latorraca e Débora Duarte (Angelina, sua esposa) era perfeita. Tinha um elenco infantil formidável e uma reconstituição de época perfeita, além da ótima direção de Avancini.

Em 1985, a grande obra de Érico Veríssimo é transplantada para a telinha. O tempo e o vento tem foco em Bibiana e suas recordações, que a fazem voltar no tempo para conhecer a história dos seus antepassados: Ana Terra (sua avó), Capitão Rodrigo (seu marido), Bolivar (seu filho), etc. Ainda em 1985, Tony Ramos e Bruna Lombardi protagonizaram a minissérie Grande Sertão Veredas, baseada no romance homônimo de Guimarães Rosa. Quem não se lembra da cena em que o Riobaldo (Tony Ramos) descobre que seu grande amigo Diadorim (Bruna Lombardi) é na verdade uma bela mulher?

Em 1986, Gilberto Braga traduziu o romantismo dos anos 50 nessa bela história de amor entre Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo) em Anos Dourados. E em 1988, o mesmo Gilberto Braga adapta um dos grandes romances de Eça de Queiroz, Primo Basílio, para a telinha global. As atuações de Tony Ramos, Giulia Gam e Marília Pêra são memoráveis. Três cenas em especial me marcaram: a morte da maquiavélica Juliana (Marília Pêra), Luísa (Giulia Gam) careca ante sua doença terminal e a descoberta da traição. Cenas antológicas da TV brasileira.

Ainda em 1988, o vencedor da Palma de Ouro em Cannes e também o primeiro filme brasileiro indicado ao Oscar é adaptado por Dias Gomes para a TV, todavia a série O Pagador de Promessas não obteve o mesmo impacto como o longa original.


A gata comeu: originalmente exibida em 1985, conta a história de Jô Penteado (Christiane Torloni), uma garota mimada, geniosa e sonâmbula, que faz de gato e sapato todos os homens que passam na sua vida. Em uma excursão escolar, conhece o pacato professor Fábio (Nuno Leal Maia) e essa viagem não termina nada bem. Um temporal os desvia da rota e faz eles se perderem. Ficam isolados em uma ilha e a daí nasce uma relação de amor e ódio hilária entre os dois. Uma das minhas novelas prediletas.

Selva de pedra: esse remake exibido em 1986, nos conta a história de Cristiano (Tony Ramos) que se envolve, por acidente, na morte de um playboy em uma pequena cidade. Testemunha da briga e sabendo da sua inocência, a artista plástica Simone (Fernanda Torres) encoberta Cristiano por quem se apaixona. Ambos fogem para o Rio de Janeiro e se casam. Ele começa a trabalhar em um estaleiro do pai da venenosa Fernanda (Christiane Torloni), formando assim, posteriormente, um triângulo amoroso. Ludibriado pelas idéias de seu amigo Miro (Miguel Falabella), Cristiano se vê perdido entre continuar sua vidinha ou tornar-se rico. Para "ajudar" o amigo, Miro planeja a morte de Simone e após persegui-la em uma auto-estrada, ocorre um grave acidente e ela é dada como morta. Aí surge Rosana Reis que jura se vingar de todos que acabaram com sua vida. Só que o amor fala mais alto no final. Vale destacar a atuação memorável de Falabella como Miro e sua frase impagável: "nhê, nhê, nhê pra você". Quem não se lembra da canção de Cristiano e Simone, interpretada por Verônica Sabino? Eu amava! Lembro que eu fiz um caderno onde copiava letras de músicas e essa foi a primeira letra que coloquei lá.

Foi um vento que passou
que te trouxe
e te levou
deixando no corpo
a marca do amor
que ficou no ar
ilusão luar
A chuva que esse vento traz
Faz com que
eu me lembre mais
de todos os sonhos
que a gente sonhou
planejou demais
demais
Bem que eu podia
tentar te encontrar
mas um vento forte
que me afastou, te levou
te escondeu
longe demais
A chuva que esse vento traz
Faz com que
eu me lembre mais
de todos os sonhos
que a gente sonhou
planejou demais
demais
e cada vento
que soprar
pode te fazer voltar
encher o vazio
que ficou no ar
me marcou demais
me marcou
demais


Carmem: assisti a essa novela de 1987 da extinta Manchete às escondidas. Lucélia Santos é Carmem, uma jovem do subúrbio carioca que faz pacto com a Pombagira, prometendo servi-la em troca do poder de sedução em todos os homens. Tem um fato engraçado que tiro dessa novela. Sabe quando a gente entra em uma igreja pela primeira vez e pode fazer três pedidos? Eu nunca pedi um namorado por causa de Carmem, já que quando ela morre, o feitiço do falso amor em Camilo (José Wilker) também acaba... Entendem? Coisas de guria! Vai entender!

Vereda tropical: essa novela de 1984 relatava o tumultado relacionamento entre o jogador de futebol Luca (Mário Gomes) e Silvana (Lucélia Santos) e sua luta pela posse do seu filho Zeca (Jonas Torres - o Bacana de Armação Ilimitada).

Sinhá Moça: novamente em uma novela de época (1986), Lucélia Santos aqui é filha do Rubens de Falco (lembram-se deles em A Escrava Isaura?), um ferrenho escravocata que é totalmente contra seu romance com o personagem do ator Marcos Paulo, um ativo abolicionista republicano.

Vale tudo: é tão boa que vou falar mais detalhadamente em outro post, assim como minha TOP 1 Que Rei sou eu? .

Guerra dos Sexos: novela divertidíssima e inteligente que foi exibida em 1983. Atuações soberbas como a do casal "gato e rato" vivido por Paulo Autran e Fernanda Montenegro tornam-na uma das melhores novelas já realizadas no nosso país.

Roque Santeiro: todos pensam que Roque foi morto e ele virou santo. Mas ele volta e causa reboliço na cidade de Asa Branca. Saudades de personagens pitorescos como Sinhozinho Malta ("tou certo ou tou errado?"), Viúva Porcina, Mocinha, D. Pombinha, Florindo Abelha, Zé das Medalhas, Cego Jeremias, Toninho Jiló, dentre outros. "Mistérios da meia-noite//Que voam longe// Que você nunca//Nao sabe nunca//Se vão se ficam//Quem vai quem foi"...

"Dona desses traiçoeiros
Sonhos, sempre verdadeiros
Oh Dona desses animais
Dona de seus ideais
Pelas ruas onde andas
Onde mandas todos nós
Somos sempre mensageiros
Esperando tua voz
Teus desejos, uma ordem
Nada é nunca, nunca é não
Por que tens essa certeza
Dentro do teu coração
Tan, tan, tan, batem na porta
Não precisa ver quem é
P'ra sentir a impaciência
Do teu pulso de mulher
Um olhar me atira à cama
Um beijo me faz amar
Não levanto, não me escondo
Porque sei que és minha
Dona..."


Top Model: essa novela exibida em 1989 agradou bastante ao público jovem, graças ao surfista Gaspar (Nuno Leal Maia), sua "amiga" Naná (Zezé Polessa) e seus cinco filhos John Lennon, Elvis Presley, Olivia, Jane Foda, Ringo Starr, além do casal principal a modelo Duda (Malu Mader) e Lucas (Taumaturgo Ferreira).

Nicete Bruno, Falabella (Miro) e Tony Ramos (Cristiano) em Selva de Pedra, Gabriela Duarte (Olivia), Júnior (Rodrigo Penna), Ringo Starr (Henrique Farias) e Carol Machado (Jane Fonda) em Top Model e José Wilker (Roque), Regina Duarte (Porcina) e Lima Duarte (Sinhozinho Malta) com padre vivido por Paulo Gracindo em Roque Santeiro.


D. Beija
: exibida em 1986 na extinta Manchete, relata a trajetória de Ana Jacinta de São José, a D. Beija, na cidade mineira de Araxá. Por causa de um amor partido, vira cortesã e transforma sua chácara em um bordel. Pra mim, a melhor interpretação de Maitê Proença, acho que mais nunca ela consegue ser tão perfeita como foi nessa novela.

Corpo a corpo: essa novela de 1984 é uma das minhas recordações mais antigas. Eu via, às escondidas, esse folhetim que tinha como premissa Fausto, tragédia famosa do escritor alemão J. W. Goethe: a ambição humana e os pactos demoníacos. Eloá (Débora Duarte) é casada com Osmar (Antônio Fagundes) e tem um filho adolescente (Selton Mello em um dos seus primeiros papéis. É impressionante como ele parecia aquele garotinho dos cadernos Companheiro). Eloá, a fim de crescer profissionalmente, faz um pacto com o diabo, só que isso causará uma crise no seu casamento. Por um tempo, eu tive medo do ator Flávio Galvão que fazia Raul, ou melhor, o tinhoso em pessoa. A novela também causou polêmica por trazer o primeiro romance inter-racial da TV através do casal Sônia (Zezé Mota) e Cláudio (Marcos Paulo). Vale destacar que na trilha incidental da novela estão presentes algumas músicas que Bernard Herrman fez para Vertigo e North by Nothwest de Hitchcock.

Direito de amar: uma das minhas favoritas. "Feliz 1901, 1902, 1903 etc". Essa frase dita pelo saudoso Lauro Corona em 1987 reverbera na minha mente até hoje. No revéillon... Durante aquele baile de máscaras... Nascimento de um amor... Desencontro... Dívidas... Vende-se uma noiva... Surpresas, obstáculos, revelações e o típico e maravilhoso final feliz. É clichê o que direi, mas definitivamente não se fazem mais romances como antigamente... Vale destacar aquele duelo final entre Carlos Vereza e Carlos Zara inspirado no soberbo romance A Montanha Mágica de Thomas Mann.

Roda de fogo: exibida em 1986, cujo protagonista é Renato Villar vivido por Tarcísio Meira. Um empresário frio, ambicioso e sem escrúpulos que ao descobrir que é portador de uma doença terminal, tenta mudar totalmente sua vida e consertar todos seus erros, além de largar sua esposa para viver um romance com a juíza Lúcia Brandão (Bruna Lombardi), seu grande amor.

Um sonho a mais: essa divertida novela exibida em 1984 conta a história de Antônio Carlos Volpone que foge do Brasil por ser suspeito de um assassinato. Faz fortuna no exterior e volta ao país para provar sua inocência e reconquistar sua ex-noiva e para isso usa vários disfarces, inclusive de uma repórter chamada de Amélia Bicudo. Ney Latorraca dá um show de interpretação nos seus vários personagens.

Brega & Chique: Herbert Alvaray é um ricaço falido e cheio de dívidas e que mantém duas famílias. Uma delas vive com todas as regalias, enquanto a outra tem uma vida modesta. Então ele resolve simular sua própria morte e foge. Esse plano empobrece a afetada Rafaela (Marília Pêra) e Rosemere (Glória Menezes) herda muitos dólares. Rafaela se muda pra mesma vila onde mora Rosemere e tornam-se amigas. Situações engraçadas, reviravoltas e um casal pra lá de divertido (Marília Pêra e Marco Nanini) são umas das grandes qualidades dessa novela do gênio Cassiano Gabus Mendes exibida em 1987.

Malu Mader e Felipe Camargo em Anos Dourados; Ney Latorraca e Débora Duarte vivem um casal de imigrantes em Anarquistas graças a Deus; Quequé (Latorraca) e uma das suas três esposas (Dina Sfat) em Rabo de Saia. Que colírio! Tarcísio Meira como um certo Cap. Rodrigo na minissérie O tempo e o vento. Elíseo de Albuquerque, Geórgia Gomide (Ana Terra), Sílvio Francisco e Davi José (de costas) na primeira parte da trilogia de Érico Veríssimo. Bruna Lombardi como Diadorim e junto com o Riobaldo (Tony Ramos) e outros jagunços em Grande Sertão, Veredas. Família toda reunida em Anarquistas (vocês sabiam que um dos filhos do casal é interpretado por Afonso Nigro, futuro Dominó?).


Eu admito: sou N-O-V-E-L-E-I-R-A! Entretanto sinto saudades dos bons folhetins. Atualmente apenas me contento com as minisséries e meu xodó atual, a espetacular microssérie Hoje é dia de Maria.

"Oh! Alecrim, alecrim dourado que nasceu no mato sem ser convidado..."


HASTA!