março 08, 2005

SAUDADE DOS 80 (parte 29)


HOLA!




THE 80'S MOVIES




"Se tendes o dom de ler as sementes do tempo e dizer quais hão de germinar e quais não, falai" (William Shakespeare).



O texto acima, por si só, se apresenta como um perfeito resumo dos filmes que vou falar. Dois filmes sensacionais e marcantes.




Sociedade dos Poetas Mortos (1989)

Renato Russo citava na sua canção "Pais e Filhos": "... Você me diz que seus pais não entendem... Mas você não entende seus pais... Você culpa seus pais por tudo... E isso é absurdo... São crianças como você... O que você vai ser, quando você crescer?" Será que ele está de todo correto? Indubitavelmente nossos pais não agem de má fé, sempre almejam o melhor para nós, mas será que esse tão declamado "NÓS" também nos pertence? Será que queremos abraçar esse "NÓS" para o resto das nossas vidas? Ou o "NÓS" é mais um epíteto da matrix das nossas vidas? Palmas para a mediocridade do "NÓS"? Por onde anda os "NÓS" pensantes?

Esse é um dos temas abordados por esse soberbo filme dirigido com perfeição e sensibilidade por Peter Weir. Um filme que não precisa de muitos estilismos de câmera, de efeitos especiais, mas de um roteiro simples e sincero e de um elenco visceral e coeso. Assim é Sociedade dos Poetas Mortos.

Um colégio tradicional onde a disciplina é extrema e o estudo é intenso. Primeiro dia do ano letivo, tudo aparentemente normal. Logo percebemos que a tradição aqui é assunto freqüente e a pressão familiar maior ainda. Você é não você, mas mais um membro da família Anderson e você tem que ser tão ou melhor que seus irmãos mais velhos. Uma tradição a seguir! Eis que surge o novo professor de Literatura, ex-aluno do próprio colégio, John Keating (Robin Williams). Entra na sala de aula assobiando e desperta a curiosidade dos alunos. Chama-os para o corredor e os leva até a sala de troféus. Entre os troféus, várias gerações de ex-alunos daquela instituição. Pede-se silêncio e que a atenção de todos volte-se para os rostos de todos aqueles garotos. Keating lança perguntas ao alunos: "O que aconteceu com eles? Para onde foram? O que fizeram de suas vidas? Suas vidas valeram a pena?"

Incompreensão e desconforto dominaram os alunos. O que aquilo tinha a ver com a aula de Literatura? E é a partir deste ponto que Keating começa a semear a capacidade de reflexão daqueles jovens tão dominados pela passividade. Afinal, será que estamos fazendo valer nossa existência? "Carpe Diem", ou seja, aproveitem suas vidas. Ele os mostra que aqueles jovens são tão semelhantes a eles: mesmos ideais, hormônios em embulição, fragilmente invencíveis. O tempo passa em um piscar de olhos: um dia estão em pé diante daquelas fotos, outro dia são os personagens daquelas fotografias esmaecidas e amareladas, ou pior, tornamos-nos comidas de vermes. E aí, valeu a pena? Será que não perdemos a riqueza contida na vida? "But if you listen real close, you can hear them whisper their legacy to you. Go on, lean in. Listen, you hear it? - - Carpe - - hear it? - - Carpe, carpe diem, seize the day boys, make your lives extraordinary".

Durante nossa vida escolar, debatemo-nos com rostos ora amigos, ora simpáticos, ora esquisitos, ora ranzinzas, ora sádicos, toda essa fauna é formada por nossos professores. Uns passam despercebidos e não que sejam maus profissionais, todavia não têm aquele plus que nos fazem apadrinhá-los, que se tornam verdadeiros educadores e mestres, alicerce fundamental para o cidadão que seremos. Keating tenta quebrar a barreira da opressão e do conformismo, usa a poesia como metáfora para nossas vidas. Não há regras, páginas já escritas. Somos poemas sentidos, livros abertos à espera de uma caneta que nos conduza.

Segundo Keating, é importante estudar para que nos tornemos advogados, engenheiros ou médicos, mas o que torna nossas existências válidas tem a ver com o espírito, com o prazer e, a poesia e a literatura são fontes riquíssimas nesses quesitos. O mestre os inspira a abrir uma antiga sociedade da qual o próprio Keating fazia parte na época escolar. Inicialmente uma brincadeira, algo diferente do que estavam acostumados a fazer, mas chega a um ponto em que os poemas penetram suas almas, tornam-se inspiração para deixar de lado a mediocridade de suas vidas e seguir rumo aos seus sonhos. Todos os alunos envolvidos sentem uma verdadeira renovação em suas existências, encontram novos interesses e vocações, tomam coragem de declarar seu amor seja por uma garota ou seja pela arte. Todos parecem ter despertado de um sono profundo, de uma letargia tão envolvente que lhes tragava a juventude sem possibilidades de volta.

Não podemos ser o berço das frustrações de outros, não podemos continuar a viver a vida dos nossos pais por mais bela e agradável que aparenta ser. Precisamos de uma identidade própria e não podemos permanecer sendo cópias xerocadas, onde a perpetuação da espécie vai além do ato de procriar.

Keating não declama um mundo utópico, mas alimenta nossos sonhos, porque eles simplesmente são necessários. Mas nem tudo são flores, a guerra se vence dia após dia, alguns esmoecem, acovardam-se, desistem, mas outros, Oh Captain, my Captain, assimilam sua mensagem com louvor.






Conta comigo (1986)

"O escritor Gordie Lachance (Richard Dreyfuss) recorda quando tinha entre doze e treze anos no verão de 1959, quando vivia em Castle Rock, Oregon, uma localidade com 1281 habitantes que para ele era o mundo inteiro. Gordie tinha três amigos inseparáveis: Chris Chambers (River Phoenix), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vern Tessio (Jerry O'Connell). Chris era o líder natural deste pequeno grupo, mas a família dele não era boa e todo mundo sabia que ele ia se dar mal na vida, inclusive ele. Teddy era emocionalmente perturbado, pois o pai tinha acessos de loucura e se Gordie era o intelectual do grupo, Vern era o mais infantil, mas foi ele quem veio com a notícia que iria modificar a vida dos quatro. Tentando achar um vidro cheio de moedas que tinha enterrado, Vern ouviu por acaso Billy Tessio (Casey Siemaszko) e Charlie Hogan (Gary Riley) falando onde estava o corpo de Ray Brower, um garoto da idade deles que tinha ido colher amoras há três dias e nunca mais tinha sido visto. Chris e Teddy queriam achar o corpo, pois vislumbravam a possibilidade de se tornarem heróis. Vern, embora indeciso, acabou cedendo, mas Gordie não conseguia se entusiasmar, já que naquele verão tinha se tornado "um menino invisível", pois há quatro meses Denny (John Cusack), seu irmão mais velho, morreu em um acidente de jipe e seus pais ainda não tinham conseguido se recuperar. Cada um deu uma desculpa em casa e partiram para tentar encontrar o corpo. Nenhum deles tinha idéia que esta viagem se transformaria em uma jornada de autodescoberta que os marcaria para sempre.

Eles fumam escondidos, contam casos assustadores e descobrem que precisam ficar unidos e encontrar forças que nem imaginavam possuir. Conta Comigo é um filme raro e especial sobre a amizade e as indeléveis experiências do crescimento. Cheio de humor e suspense, o filme é baseado no romance "The Body", de Stephen King" (Adoro cinema/2001 Vídeo)





"Nunca mais tive amigos como os que tive quando tinha 12 anos" diz, em certo momento, Gordie. Muitos dos meus amigos foram perdidos de tantas formas: distância, casamento, brigas bobas. E essa dor é tão pungente, porque podemos viver sem amores, mas nunca sem amizade. O que fiz de errado? Ou será mesmo conseqüência dos nossos destinos que não se cruzam mais? Rob Reiner (mesmo diretor de Harry & Sally e Sintonia de Amor) dirige impecavelmente esse filme e consegue atuações soberbas dos quatro atores mirins.

O ombro amigo, o companheirismo e a confiança sem limites da amizade... Nostálgico e melancólico! Esse filme é um álbum de fotos antigas que tomam vida nas nossas mentes. Brincadeiras, aventuras, amores não correspondidos, broncas, os uniformes cheios de assinaturas, o braço com gesso que todos autografam, as festinhas americanas... Nas últimas cenas, vemos que eles se separam e que aquela não é uma despedida comum. Eles estão se despedindo, pois sabem que aquela pode ter sido sua última aventura. Eles estão se despedindo pois sabem que a infância acabou, que perderam a inocência e que amadureceram.

Ademais a vida não se resume a uma cidade de 1500 habitantes. O tempo passou para os quatro garotos de Castle Rock. E passa para nós também. Lembrem-se sempre de seus amigos e quando chegar a hora de partir, deixem que partam. Deixem que saiam de suas vidas, mas guardem cuidadosamente os momentos bons. E um conselho: assistam a Conta Comigo outra vez após ter lido esse texto. E se deixem emocionar. Não se espantem se não conseguirem segurar as lágrimas com as lembranças de seus amigos que surgem. Afinal, o filme foi feito pra isso...


Música do dia:

Dá pra imaginar uma música que se encaixa tanto em um filme, mesmo não tendo sido feita para ele? Assim é Stand by me.

When the night has come,
and the land is dark.
And the moon,
is the only light we'll see.

No, I won't, be afraid
Oh I-iiiiii won't
Be afraid
Just as long as you
stand, stand by me.

So darlin', darlin'
stand...by me
Ohhhh stand by me (x2)
Stand by me,
Stand by me.

If the sky -
that we look upon,
Should tumble and fall.
or the mountain,
Should crumble to the sea.

I won't cry, I won't cry.
No I-iiii won't shed a tear.
Just as long
As you stand
Stand by me.

And darlin', darlin'
Stand, by me.
Ohhhh stand by me.
Woahh stand now,
Stand by me.
Stand by me.

(Instrumental Portion)

Darlin', darlin'
Stand, by me.
Ohhh stand, by me.
Stand by me.
Stand by me.

Whenever you're in trouble,
Wont you stand, stand by me.
Stand by me.
Ohhh stand by me.






HASTA!