fevereiro 20, 2005

SAUDADE DOS 80 (parte 22)


HOLA!




THE 80'S MOVIES



PUTA FILMES MADE IN BRAZIL



"Toda unanimidade é burra". Todos falam que o Collor acabou com o cinema nacional, mas já não estava acabado por si só? Ao ver por um outro prisma, será que haveria uma reabilitação do nosso cinema? Será que veríamos filmes tais como Cidade de Deus, Redentor, O homem que copiava, Central do Brasil, Abril Despedaçado, Lavoura Arcaica, O homem do ano, Contra Todos e outros mais? Nunca saberemos...

Realmente eu odeio quem solta a ridícula frase: "Não gosto de filme nacional" ou pior "não gosto de filme dublado". Quando é que essas pessoas vão parar de ser preconceituosas e perceber que nosso cinema não é um gênero apenas, mas que todos os gêneros estão inseridos nele. Não que seja uma verdade absoluta, mas para aqueles que reclamam que nossas películas só abordam questões sobre a seca do Nordeste ou sobre as favelas, que posso falar sobre os inúmeros filmes patrióticos americanos? Temos filmes bons e ruins como em qualquer outro país.

Infelizmente eu peguei o cinema nacional na sua pior época, quando as adaptações do Nelson Rodrigues eram realizadas e de forma medíocre e o que só se comentava eram as cenas de sexo. "Puta" filmes, entendem? Por sinal, a lembrança mais viva que tenho dos filmes feitos nos anos 80 é bastante constrangedora. Carla Camuratti acende um cigarro caseiro inusitado, já que eram seus (ergh) pêlos pubianos que estavam na sua boca. Não lembro o nome do filme, quem atuava além da Carla, entretanto essa cena é tão repugnante que não saiu da minha cabeça até hoje.

Só fui perceber como nosso cinema decaiu quando assisti a alguns filmes da Cia. Cinematográfica Vera Cruz e conheci o Cinema Novo de Gláuber Rocha. Mazzaroppi era naturalmente engraçado; Lima Barreto fez um clássico do cinema nacional, O Cangaceiro, que deu origem a um gênero denominado Northerns, um sertão estilizado e que nada mais era que uma versão tupiniquim dos westerns americanos e Gláuber fez obra-primas como Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol.

"O cinema prolonga a morte. Estas imagens estarão eternas. Além da morte. Roberto Rosselini dizia que é mais fácil fotografar o mundo do que fotografar um rosto. O cinema, me disse Alexandre Kluge, deve ser polifônico. É uma nova arte e presa ainda ao naturalismo/realismo do romance. O romance, os senhores sabem, é uma expressão do século XIX. É, pois, a linguagem da burguesia. O cinema é a linguagem do capitalismo, isto é, do século XX. Cinema, jornalismo, televisão. O cinema, porque foi realizado até bem pouco tempo por homens com formação no século passado e formou e deformou o público e a crítica. E a maioria dos intelectuais. E, o que é mais grave, a maioria dos cineastas. O cinema é um instrumento de coração do capitalismo. Ou do policialismo. Liberdade, no cinema, sempre foi crime. Rimbaud, para lembrar um nome conhecido, que é ponto pacífico na poesia, se aparecesse fazendo filme como escrevia levava ovo na cara. Idem Cézanne. Até mesmo Van Gogh. E estes são artistas do século passado, nem mais vanguarda são considerados. Por que o cinema tem de ficar seguindo a narrativa de Maupassant? Quando um intelectual vem me dizer que não gostou de Terra em Transe porque não entendeu, dá vontade de perguntar a ele se poesia ou música ele entende tudo como entende uma reportagem, isto é, no sentido explicativo, óbvio, ululantérrimo!"

"Convulsão, choque de partidos, de tendências políticas, de interesses econômicos, violentas disputas pelo poder é o que ocorre em Eldorado, país ou ilha tropical. Situei o filme aí porque me interessava o problema geral do transe latino-americano e não somente do brasileiro. Queria abrir o tema "transe", ou seja a instabilidade das consciências. É um momento de crise, é a consciência do barravento."

"Eu parti do texto poético. A origem de Deus e o diabo é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No Nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando: eu vou lhes contar uma história que é de verdade e de imaginação, ou então que é imaginação verdadeira. Toda minha formação foi feita nesse clima. A idéia do filme me veio espontaneamente."


GLAUBER ROCHA


Como eu não revi a maioria dos filmes que citarei a seguir e a cabecinha de quem vos fala anda bem esclerosada, agradeço ao site Adoro Cinema por algumas das sinopses gentilmente "ctrl+c" e "ctrl+v".







Bete Balanço (1984): "Jovem liberada resolve abandonar a cidade de Governador Valadares para tentar carreira artística no Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa, ela se decepciona com os empresários da música e com a violência urbana, mas também encontra apoio no namorado e nos novos amigos".

O que Karinne lembra? Apesar de ser previsível, é deliciosamente ingênua essa versão pop brazuca da história de Cinderela. Recordo-me da trilha soberba repleta de artistas do quilate de Cazuza e outras bandas de rock bacanas, da Débora Bloch dançando e da beleza inesquecível de Lauro Corona.

Feliz Ano Velho (1988): "Mario dá adeus à sua adolescência ao mergulhar e bater a cabeça em uma pedra no fundo de um lago. Em crise, o que parecia difícil fica pior e o rapaz, diante do que parecia o fim, começa a reviver e resgatar momentos importantes de seu passado, até descobrir uma nova força em sua vida".

O que Karinne lembra? O filme era simpático e foi adaptado do ótimo best-seller autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva.



A menina do lado (1987): "Homem maduro e casado aluga casa na praia para terminar um livro. Lá, apaixona-se por uma vizinha adolescente".

O que Karinne lembra? Só vi esse filme protagonizado por Reginaldo Faria e Flávia Monteiro anos depois pela TV Cultura. Porém me lembro das filas cheias na porta do antigo e saudoso Cinema Palace. Nem sei o porquê do alarde que teve na época em cima das cenas de sexo. Tem um quê de Lolita, mas muito mais suave.


Menino do Rio (1981): "Jovem que ganha a vida fazendo pranchas de surf se apaixona por uma garota da alta sociedade, mas sofre um choque ao descobrir que ela sentia uma forte atração pelo pai dele. Ela não sabia que um era pai do outro, mas está decidida a ficar com filho, que agora não quer saber dela. Assim, ela decide se casar com um antigo noivo, por quem nunca foi apaixonada."

O que Karinne lembra? A beleza do André de Biase e seus cabelos dourados; Cissa Guimarães, Cláudia Ohana, Evandro Mesquita e até Sérgio Malandro no início das suas carreiras; surfistas levando ao mar a prancha e a mochila de Pepeu (Ricardo Graça Melo); Valente (André de Biase) chegando de pára-quedas no casamento de Patrícia (Cláudia Magno, já falecida) e da linda música composta por Caetano e cantada por Baby Consuelo: "Menino do rio, calor que provoca arrepio... Dragão tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço... Coração de eterno flerte, adoro ver-te..."




O homem da capa preta (1986): "Cinebiografia do polêmico e reacionário político da Baixada Fluminense dos anos 50 e 60, Tenório Cavalcanti, ex-deputado federal que com sua metralhadora, apelidada de Lourdinha, desafiava a corrupção e os poderosos que dominavam o município fluminense de Duque de Caxias. O filme traça o panorama político do Rio de Janeiro dos anos 40 a 60".

O que Karinne lembra? Uma puta atuação do José Wilker.



O beijo no asfalto (1980): "Um desconhecido é morto ao ser atropelado por um ônibus e, agonizante, pede aquele que o socorreu um último beijo na boca. O fato é transformado em escândalo pela imprensa sensacionalista e o homem que cometeu o "crime" de beijar um agonizante passa a ser alvo de preconceito popular e também a ser investigado pela polícia, que começa a supor que o acidente tenha sido um assassinato".

O que Karinne lembra? Puta filme dirigido impecavelmente por Bruno Barreto e baseado na peça de Nelson Rodrigues. Todo o elenco atua maravilhosamente bem, principalmente o Ney latorraca (Arandi) e Daniel Filho (o repórter Amado Pinheiro). O filme disserta sobre o poder de manipulação da mídia e a decadência moral de seu alvo.

Pixote - A Lei do Mais Fraco
(1981): "Pixote foi abandonado por seus pais e rouba para viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos".

O que Karinne lembra? O melhor filme de Babenco. Pixote correndo por aquela rua escura... Infelizmente a realidade imitou as telas.

Dias melhores virão (1989): "Maryalva é uma dubladora que sonha em se tornar uma estrela de Hollywood. Em seus devaneios, realidade e fantasia se misturam e ela conversa com, entre outros, o fantasma de um namorado morto, ainda jovem, num acidente de moto e a estrela da comédia americana a qual ela dubla".

O que Karinne lembra? Puta atuação, pra variar, da Marília Pêra (e ainda canta bem!) e Rita Lee dando uma de atriz. E não deixa de ser uma crítica àqueles fãs fanáticos, que vivem a vida dos seus ídolos e não a deles, uma dublagem mental.

Dedé Mamata (1987): "André passa da infância à adolescência, do fim dos anos 60 até o final dos 70. Morando com os avós, numa família de comunistas e anarquistas, sobrevive às escondidas durante a ditadura militar. Estabelece forte amizade com um moleque de rua viciado em droga, mas leal e com uma menina que deixa a família para viver com eles no mesmo apartamento. A morte dos avós abrirá as perspectivas de liberdade e amadurecimento para Dedé Mamata".

O que Karinne lembra? Um bom filme com boas atuações, principalmente do Marcos Palmeiras. Mais detalhes não me peçam... É a esclerose!

Besame Mucho (1986): "Besame Mucho narra em discurso retroativo a trajetória de dois casais amigos, Xico e Olga, Tuca e Dina, mostrando o romance no interior, o casamento, o sexo, a carreira profissional, os fatos políticos das décadas de 60 e 70, e a música "Besame Mucho", interferindo em suas vidas".

O que Karinne lembra? Quase nada! Vi na extinta Manchete e a Karinne daquela época achou o filme bonzinho.

Amor Estranho Amor (1982): "Prostituta, e amante do governador de São Paulo, se esforçava para se manter em alta no bordel que tinha uma ninfeta atrevida". (Aff, que textinho. Não é meu não :P...)

O que Karinne lembra? A cena da Xuxa, oras... Gostei de uma crítica feita no site Adoro cinema: " E estes casos narrados por este filme de Walter Khouri, continuam acontecendo até hoje. Narra com muita propriedade uma casa, dita suspeita, com suas ninfas, musas e prostitutas à espera de esperanças e dias melhores. O despertar da sexualidade tratado com sensibilidade, bom gosto e inspiração. Xuxa aparece nua e copulando com um garoto. Não entendo o porquê ela quis tirar este marco do cinema brasileiro do mercado. Arte é arte, ela já deveria ter entendido isto." E aí, marmanjos, concordam?

O Romance da Empregada (1987): "Uma empregada doméstica (Betty Faria) trabalhava arduamente, tendo que suportar as exigências da patroa e em casa tinha de aturar um marido desempregado e bêbado. Mas, apesar de tudo, sonhava em ser feliz e um dia encontrou um homem bem mais velho que acreditava na vida e queria morar com ela. Apesar de existir por parte dela um interesse financeiro, ela sente um grande carinho por este senhor que a trata tão bem".

O que Karinne lembra? Achei interessante esse filme que aborda uma profissão ainda bastante concorrida no nosso país: o alpinismo social.

Índia, a filha do sol (1982): "Em Goiás um cabo do Exército (Nuno Leal Maia) é encarregado de resolver determinadas irregularidades em um garimpo. Lá uma índia da região (Glória Pires) se apaixona por ele. No entanto, um trágico destino a aguarda, pois o cabo pretende ficar com várias pedras preciosas só para si".

O que Karinne lembra? Primeiro filme de Fábio Barreto (Nem pra ser o último né? Nem vi tanta graça em O Quatrilho!). Nem sei afirmar se gostei ou não, só sei que vi porque me lembro das cenas em que a personagem da Glória Pires nadava no rio.

Um trem para as estrelas (1987): "Eunice, a namorada de Vinícius, jovem e promissor músico vivendo nos subúrbios do Rio de Janeiro, desaparece depois de uma noite de amor. Em sua busca da namorada desaparecida, Vinícius vive uma verdadeira odisséia urbana, atravessando a cidade, sua violência, miséria, injustiças, sempre envolvido pela música".

O que Karinne lembra? O deus grego (na época!) Guilherme Fontes tocando sax... A trilha linda do Gilberto Gil e aquela canção belíssima cantada por Cazuza... Puta filme dirigido por Cacá Diegues que tem como referência explícita a saga mitológica de Orfeu. Na mitologia grega, Orfeu é o mais musical dos filhos de Apolo. Ele atravessa o pântano de Hades atrás de sua amada Eurídice não podendo olhar para trás sob pena de perdê-la para sempre. Assim faz Vinícius (numa clara homenagem ao poeta e cantor Vinícius de Moraes que havia escrito a peça "Orfeu da Conceição") que sai do seu mundinho idealizado quando sua namorada Eunice desaparece. Presta queixa, mas é zombado pelo delegado. Procura os pais da garota e percebe o desprezo imperante (destaque para a saudosa Miriam Pires interpretando a mãe da namorada do Vinícius, uma mulher alienada que só se preocupa com programas de televisão, numa nítida crítica à massificação realizada por essa mídia). Entra em contato com a vida desregrada e suja do submundo carioca. Reencontros, descobertas e perdas. Nessa sua jornada, acaba por achar a si mesmo.

Bonitinha, mas ordinária (1981): "Edgar é um rapaz de Minas Gerais de origem bastante humilde, fato esse que o constrange. Procurado por Peixoto, genro do milionário Weneck, dono da firma onde trabalha, Edgar recebe a proposta de se casar com Maria Cecília, filha de Werneck, de 17 anos. Pelo dinheiro, Edgar aceita, mas tem dúvida por gostar de Ritinha, sua vizinha. Já com o casamento acertado, Edgar e Ritinha vão despedir-se num cemitério, onde ela conta o quefaz para conseguir sustentar a mãe e as três irmãs".

O que Karinne lembra? Cinema era a piscoterapia da Lucélia Santos. Só isso para justificar os papéis picantes na telona. Era uma forma de contrapor as boas moças da telinha. E o filme em si? Só sei que vi e não gostei.

Ópera do malandro (1985): "Nos Anos 40, malandro elegante e popular, figura do boêmio bairro carioca da Lapa, explora cantora de cabaré e vive de pequenos trambiques. Até que surge Ludmila, a filha do dono do cabaré, que pretende tirar proveito da guerra fazendo contrabando".

O que Karinne lembra? Obra-prima do teatro nacional (tudo bem, é uma adaptação da dos gringos, mas muito melhor que a original que não vi :P) e trilha soberba do magnífico Chico Buarque. Bem, do filme em si, tenho lembranças como se fossem fotografias do Edson Celulari e da Elba Ramalho.

Eu te amo (1981): "Este filme é uma fantasia romântica sobre o desejo e a paixão. Tudo se passa dentro de um apartamento fantástico, como um caleidoscópio ou um palácio de espelhos, onde os delírios do amor e do sexo se refletem num ritmo alucinante. É a história de um homem (Paulo César Pereio), industrial falido no milagre dos anos 70 e de uma mulher (Sonia Braga) que desejam desesperadamente se amar e que ao mesmo tempo tem um medo brutal deste encontro. Começa como drama psicológico, evolui para a comédia e erotismo e acaba como um grande delírio musical".

O que Karinne lembra? Que droga, não lembro se gostei ou não, só sei que vi. Perdi a oportunidade de zoar da cara do Jabor... Imperdoável!

Engraçadinha (1981): "Jovem conta a um padre suas aventuras. Engraçadinha (Lucélia Santos) é uma jovem sensual e desejada por todos, menos por seu primo Sílvio, noivo de sua prima Letícia".

O que Karinne lembra? Lembro-me mais da minissérie global :P... Bela interpretação de Lucélia Santos.

Ele, O Boto (1987): "Segundo uma lenda amazônica, em noite de lua cheia o Boto vem à terra e se transforma em humano para seduzir e ser amado pelas mulheres e odiado pelos homens. Uma de suas conquistas é a filha de um pescador que tem um filho com o Boto. Constantemente ele reaparece para seduzi-la e, mesmo quando ela se casa, ele continua a procurando. Isto provoca a ira do marido, que deseja matá-lo de qualquer jeito".

O que Karinne lembra? Ricelli despido e só :P...

Doida Demais (1989): "Letícia, uma falsificadora de quadros, avisa para Noé, seu cúmplice e amante, que não quer mais fazer este "serviço" e que de agora em diante eles são apenas sócios. Esta posição desagrada Noé, que não quer perdê-la de jeito nenhum. Letícia não queria participar de uma venda feita para um fazendeiro de Mato Grosso, mas mais uma vez Noé conseguiu convencê-la. Ela viajou para fechar negócio mas nem tudo saiu como Noé planejou, pois ela conhece Gabriel, o piloto de um avião de aluguel em que ela viajava. Logo ela se envolve com Gabriel, mas os dois passam a ser perseguidos por Noé em uma fuga desesperada".

O que Karinne lembra? Melhor esquecer, ruim demais...


Acho que vou procurar um geriatra :P...



HASTA!