março 25, 2005

SAUDADE DOS 80 (parte 38)


HOLA!





THE 80'S MOVIES




We are the middle children of history, with no purpose or place. Our generation has had no Great Depression, no Great War. Our war is spiritual. Our depression is our lives. (Tyler Durden, "Fight Club")





Brazil (1985): Brazil é um filme extremamente caótico, mas de profundo significado ideológico! Mostra uma sociedade no futuro, supostamente avançada, mas com um visual extremamente retro-tecnológico, onde tudo deveria funcionar com mais praticidade, entretanto, na verdade, a vida acaba sendo dificultada por máquinas que não funcionam, engenhocas problemáticas que constantemente estão causando caos na vida das pessoas. Uma sociedade que busca a perfeição, mas que, no fundo, é totalitarista e lembra muito os regimes fascistas e, curiosamente, os regimes militares, incluindo o nosso na época da ditadura. Mas o significado de Brazil no filme é a terra idealizada, perfeita, sem prédios grotescos, sem um governo repressor, onde o protagonista interpretado por Jonathan Pryce busca refúgio em seus sonhos, único local onde encontra a tão desconhecida liberdade. O próprio co-roteirista do filme, Tom Stoppard, definiu Brazil como "A mente livre numa sociedade não-livre." O diretor Terry Gilliam define o âmago da sociedade criada em Brazil como um sistema digestivo que acaba levando mais merda do que informação em seus canais.

Como disse, Brazil lembra muito o próprio Brasil na época do regime militar onde os soldados invadiam nossas casas e levavam nossos parentes sem uma explicação, onde pessoas desapareciam sem justificativa nas mãos do governo, onde todas as mentes livres eram caladas. Não sei se Gilliam tinha isso em mente, provavelmente não. Ele idealiza o Brasil da década de 20 ou 30, onde Carmem Miranda era musa, onde aqui era realmente o paraíso dos estrangeiros, a terra do romance (alguns filmes antigos como Notorious de Hitchcock mostram muito bem esse esteriótipo), acentuando ainda mais o clima retrô do filme.

Carruagens de fogo (1981): "Os melhores atletas da Inglaterra iniciam sua busca da glória nos jogos olimpicos de 1924. O sucesso honra sua pátria. Para dois corredores, a honra em questão é pessoal... e o desafio vem de dentro de cada um deles. Vencedor de 4 Oscar® em 1981, incluindo melhor filme, "Carruagens de Fogo" é a cativante história real de Harold Abrams, Eric Liddell e da equipe que trouxe para a Grã-Betanha uma de suas maiores vitórias no esporte. Ben Cross, Ian Charleson, Nigel Havers, Nicholas Farrell e Alice Krige atuaram muito bem em seus primeiros papéis num filme de primeira linha sob a direção de Hugh Hudson. O produtor David Puttnam combinou esses talentos para criar um filme de impacto único e duradouro. Com suas inigualáveis tomadas da competição e sua trilha sonora vencedora de um Oscar® assinada por Vangelis, este filme marcou definitivamente seu lugar no coração daqueles que amam o cinema em qualquer parte do mundo" (2001 Vídeo).

Comentando: um filme belíssimo, emocionante e com uma das melhores trilhas sonoras da história do cinema.

Cocoon (1985): "Extra-terrestres vem a Terra com a missão de recuperar casulos com seres de outro planeta, sendo que enquanto os casulos vão sendo recuperados eles são colocados em uma piscina, energizada pelos alienígenas. Mas os extraterrenos ignoram o fato desta piscina ser utilizada por três idosos moradores de um asilo, que logo passam a ter uma disposição fantástica. Porém, quando descobrem a origem da sua juventude um dilema surge na vida deles".

Comentando: apesar de ser divertido e capaz de emocionar, o filme que vale mais pelas atuações. A continuação Cocoon 2 - O Regresso em 1988 é bem fraquinha, por mais esforço que faça o ótimo elenco.

A festa de Babette (1987): "Na desolada costa da Dinamarca vivem Martina e Philippa, as belas filhas de um devoto pastor protestante que prega a salvação através da renúncia. As irmãs sacrificam suas paixões da juventude em nome da fé e das obrigações, e mesmo muitos anos depois da morte do pai, elas mantém vivos seus ensinamentos entre os habitantes da cidade. Mas com a chegada de Babette, uma misteriosa refugiada da guerra civil na França, a vida para as irmãs e seu pequeno povoado começa a mudar. Logo Babette as convence a tentar algo realmente ousado - um banquete francês! Sua festa, é claro, escandaliza os mais velhos do lugar. Quem é esta surpreendentemente talentosa Babette, que tem apavorado os moradores desta devota cidade com a perspectiva deles perderem suas almas por deleitarem-se com prazeres terrenos?"

Comentando: uma drama existencial narrado com lirismo, espiritualidade e uma bela fotografia. Uma metáfora das nossas vidas através da arte da culinária.

Gandhi (1982): a história verídica do líder pacifista indiano, Mahatma Gandhi, assassinado em 1948.

Comentando: uma das mais perfeitas atuações da história do cinema, Ben Kingsley é Gandhi ou Gandhi é Ben Kingsley?

Coração Satânico (1987): "Nova York, 1955. Harry Angel (Mickey Rourke), um detetive particular, é contratado por Louis Cyphre (Robert De Niro), um misterioso cliente para encontrar um cantor. Entretanto, quanto mais ele se aprofunda na investigação, mais distante fica da verdade. Envolve-se com figuras estranhas, que morrem violentamente e penetra em um mundo místico, que não entende".

Comentando: Alan Parker nos presenteia com uma história densa, intrigante, surpreendente, com tons místicos, cheia de simbolismos e metáforas. Parte técnica irrepreensível assim como seu elenco.

Erik, o viking (1989): "Uma das poucas coisas que se conhece da mitologia nórdica é que existe um Deus chamado Thor, cujo martelo desfere raios poderosos. Assistir "Erik o Viking" é uma boa maneira de corrigir o erro e entrar em contato com lendas, superstições e histórias de rara beleza dos antigos povos escandinavos que habitavam países hoje conhecidos como Dinamarca, Noruega, Suécia e Islândia.Também é um convite à muitas risadas, já que o filme foi dirigido por um ex-integrante do irreverente grupo inglês Monty Python.

Tudo começa quando Erik, um viking de bom coração, acidentalmente mata uma aldeã numa tentativa de salvá-la de seus coléricos companheiros. Reflexivo, dado a devaneios, Erik questiona se a origem da maldade desmedida de seus companheiros não se deveria à falta de sol, pois em seus territórios os vikings nada mais viam que céu cinzento e escuridão. Reunindo um grupo de bravos, amalucados e irreverentes exploradores que pensam parecido, ou mesmo que desejam apenas novas aventuras, Erik comanda uma insólita expedição em busca do sol e de Asgard, morada dos deuses, dos quais espera respostas sobre o verdadeiro significado da vida. Em Niffleheim, morada dos mortos, Erik espera também reaver a mulher a quem matou sem querer, e pedir o seu perdão. Na jornada, repleta de desafios, Erik deve alcançar a ponte Bifrost, feita de arco-íris, único acesso à morada dos deuses Asgard que consiste em palácios de ouro e prata. O Valhala é o mais belo deles, sendo moradia do deus Odin, senhor de todos os deuses, a quem se atribui a invenção dos caracteres rúnicos. Passando maus bocados, mas sempre animado pela busca da verdade, Erik e seus companheiros logram vencer a temível serpente Nidgard e a descrença e rebeldia dos próprios companheiros para chegar até à presença dos deuses em busca de explicações. Este encontro é surpreendente, sendo um dos pontos altos do filme. Trata-se de um grande filme estranhamente ignorado pelos cinemas e pela crítica".

Comentando: depois desse texto aí em cima, melhor calar minha boquinha. Tudo bem, os anos 80 (Ao vivo no Hollywood Bowl (1982), Monty Python e o sentido da vida (1983)) pode não ter sido os melhores pra trupe do Monty Python que, em anos anteriores, nos presenteou com clássicos do seu humor peculiar tais como E agora para algo completamente diferente (1972), Monty Python em busca do cálice sagrado (1975), A vida de Brian (1979), O Incrível Exército de Brancaleone (1966) etc, mas que todos seus filmes são acima da média se compararmos com as comédias que nos fazem engolir goela abaixo, isso é inegável.




O selvagem da motocicleta (1983): "Em uma pequena cidade industrial que está morrendo, o líder de uma pequena gangue, Rusty James (Matt Dillon), vive na sombra de seu ausente irmão mais velho, "O Motoqueiro" (Mickey Rourke). A mãe dele partiu, o pai dele bebe, escola não tem nenhum significado para ele e suas relações são superficiais. Rusty é levado em participar de mais uma briga de gangues e os eventos que se seguem começam a mudar sua vida".

Comentando: mais uma ótima parceria entre o diretor Francis Ford Coppola e a escritora Susan E. Hinton que gosta de abordar os "outsiders" da sociedade. A fotografia do filme em preto e branco é muito bonita e é uma homenagem clara de Coppola ao expressionismo alemão. Rumble Fish literalmente significa peixe de isca, mas a autora do livro que serve de roteiro para esse conto dolorido de Coppola foi buscar a inspiração em uma espécie toda particular de peixe, do tipo ornamental, o Peixe de Briga, cuja característica principal é ser um peixe que só de ver o próprio reflexo no vidro começa brigar consigo mesmo, uma auto-violência que se torna cruel e doentia.

Achei uma resenha bem interessante em um site (ai, perdi o link!) que resume muito bem essa metáfora do peixe em relação aos personagens do filmes.

"Com a persona toda trabalhada em cima dessa imagem, o garoto da motocicleta (Mickey Rourke, irrepreensível, inspirado em Camus e Napoleão) é tudo, menos selvagem. Ele é o herói, idolatrado. Briguento na adolescência, virou uma lenda. Seu fã número 1 é o irmão mais novo, Rusty James (Matt Dillon, perfeito), caso comum quando se tem apenas a família como espelho. O herói é aquele que pode tudo mas que na verdade não quer nada. Essa contradição é o emblema do filme. Em busca de respostas para perguntas que talvez nem saiba, o garoto vai de moto à Califórnia. Na sua ausência, o irmão mais novo faz tudo aquilo que fez do mais velho uma lenda: briga, arranja confusões, é expulso da escola, afinal, o que um garoto pobre pode fazer num bairro perdido de uma cidade esquecida, a não ser brigar de gangues?

Quando o garoto da motocicleta retorna, percebe-se que algo mudou. Há como fugir de uma persona? Cansado de ser o mito, desmontará com sua indiferença desiludida o irmão, mas não a polícia. E qual é o destino de um herói? Coppola domina a tela. O filme é em preto e branco de absoluto sonho porque nosso herói é daltônico, e quase surdo como uma tv preto e branco com volume baixo, explica. Vê apenas vislumbres de cores. E vê que viver não é e nunca será fácil. O selvagem da motocicleta é forte e perturbador porque fala da juventude, para a juventude. Um perfeito cult-movie, talvez o melhor."


A mulher do tenente francês (1981): dirigido por Karel Reisz, o filme aborda duas relações amorosas paralelas. Mike e Anna (Jeremy Irons e Merly Streep) são os protagonistas de um filme que se passa tanto em Londres como no interior da Inglaterra. Mike interpreta o paleontologista Charles que é noivo de uma garota que mora na cidade litorânea onde estuda. Todavia apaixona-se por Sarah (Anna (Merly Streep)), uma mulher marginalizada por sua reputação manchada já que teve um caso amoroso com um tenente francês que chocou toda a sociedade. Enquanto a história fictícia evolui, os atores também passam a viver um amor proibido tal como seus personagens. Um belo filme que ganhou o Cesar de melhor filme estrangeiro e foi indicado a vários outros prêmios.


Adeus, meninos (1987): Louis Malle é o responsável pela direção desse belíssimo e sensível filme sobre a ocupação nazista na França. Julien é um garoto super estudioso em uma escola católica até a chegada de Jean Bonnett. Inicialmente mantêm uma relação de hostilidade, mas com o tempo tornam-se grandes amigos. Durante a Guerra, os próprios professores escondem Julien e outras crianças por serem judeus. Todavia a Gestapo invade o colégio e prende muitos dos que se escondiam lá. Um relato comovente sobre as atrocidades da guerra e o valor da amizade. Tudo é visto através da inocência da infância, uma condição que vai sendo perdida enquanto se avoluma a tragédia da guerra. Essa inocência pode ser resumida no diálogo de uma cena, quando um menino não-judeu pergunta ao irmão mais velho de que os judeus estão sendo acusados e este responde: "De serem mais inteligentes do que nós e de terem crucificado Jesus".





Contos De Nova York (New York Stories,1989): "Na primeira história, "Lições de Vida" (Life Lessons), dirigida por Martin Scorsese, Lionel Dobie (Nick Nolte), um famoso artista plástico, fica arrasado quando Paulette (Rosanna Arquette), sua namorada e assistente, planeja abandoná-lo. Na segunda, "A Vida Sem Zoe" (Life Without Zoe), dirigida por Francis Ford Coppola, Zoe (Heather McComb), uma menina, vive esquecida em um hotel de luxo enquanto seus famosos pais viajam o mundo. Na terceira, "Édipo Arrasado" (Oedipus Wrecks), dirigida por Woody Allen, Sheldon Mills (Woody Allen) é um advogado que não consegue se libertar da mãe dominadora".

Comentando:


Segmento "Lições de Vida" (Life Lessons) - Direção: Martin Scorsese Roteiro: Richard Price

Esse filme já me arrepia até o último fio de cabelo só com aquela música maravilhosa de Procol Harum, A Whiter Shade Of Pale, que dá o clima do filme até o seu final. Nick Nolte e Rosana Arquette estão perfeitos e a química entre eles é excelente. Vale a pena mentir por um amor? Ou você é da turma do filme Closer?

Segmento "Life Without Zoe" - Direção: Francis Ford Coppola Roteiro: Francis Ford Coppola e Sophia Coppola

Mesmo sendo o mais fraco dos três contos, é um filme gracioso, bem no estilo da Sophia Coppola. Até achei que o filme tem um quê de autobiográfico: garotinha rica, pai talentoso que vive viajando... Ela vive em hotéis, tem amigos riquíssimos... Apaixonada pelo pai, mas solitária...

Segmento "Édipo Arrasado" (Oedipus Wrecks) - Direção: Woody Allen Roteiro: Woody Allen

Conto engraçadíssimo de Allen, onde ele mostra um pouco do seu complexo edipiano. Mia Farrow é a "passive-agressive" louca por filhos e Woody Allen nunca consegue aturá-la até o final do filme!




Conan, o Bárbaro (1982): guerreiro nórdico (Schwarzenegger) ainda pequeno é aprisionado como escravo após a morte de sua família em um massacre comandado por um poderoso local (James Earl Jones, a voz por trás de Darth Vader). Após se libertar, jura vingança e só confia na sua espada. No segundo filme, Conan, o Destruidor (1984), ele juntamente com alguns guerreiros e uma princesa, vão atrás de um feiticeiro em um castelo de vidro em busca de um cristal. Ótimas lutas coreografadas e a trilha de Basil Poledouris são os pontos altos do filme juntamente com o carisma de Schwarzenegger.

Gosto de Sangue (1984): primeiro filme dos irmãos Coen e já num clima bem noir. Mulher (Francis McDormand) tem um caso amoroso com um funcionário do marido e o corno enciumado contrata um assassino para matá-los que acaba por matá-lo e fica com a grana. Essa é apenas a premissa de um filme inteligente, cheio de reviravoltas, com suspense e muito humor negro.


Digníssimos de nota: Louca Obsessão (1989), Arizona nunca mais (1987, os irmãos Coen rules!), Amigas para sempre(1988), Peggy Sue (1987), Questão de Classe (1983), Somos todos católicos (1985), Bom Dia, Vietnã (1987), Gêmeos - Mórbida Semelhança (1988), O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante (1989), Meu pé esquerdo (1989), O segredo do abismo (1989, excelente!), O fundo do coração (1982), os dois últimos ambos de Coppola. Apesar de serem da década de 70, tanto Taxi Driver (1976) como Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) foram vistos e venerados por mim nos anos 80.





PS: Agradeço ao site Adoro Cinema pelas sinopses "ctrl+c" e "ctrl+v".



HASTA!