setembro 23, 2004

As várias nuances da solidão (parte 9)

HOLA!


A SOLIDÃO ATRAVÉS DOS POEMAS



01- Alma minha gentil, que te partiste


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste

Se lá no assento etéreo onde subiste
memórias desta vida se consente
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
algüa coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encortou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te
quão cedo de meus olhos te levou.

(Camões)




02-A Estrela


Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

(Manuel Bandeira)



03- SOLITÁRIO



Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos,um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí,como quem tudo repele,
-Velho caixão a carregar detroços-

Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!

(Augusto dos Anjos)



04- O Silêncio de Pascal


"O silêncio desses espaços
infinitos me apavora "
os pensamentos estraçalhados de
Pascal
são a crise de uma consciência
excepcional
no limiar de uma nova era
o místico Pascal
contempla o céu estrelado
numa vã espera de vozes
o céu calou-se
estamos sós no infinito
deus nos abandonou
" daquela estrela à outra
a noite se encarcera
em turbinosa vazia desmesura
daquela solidão de estrela
àquela solidão de estrela "
(leopardi via haroldo de campos)
nenhum ufo
no close contact of the third kind
a solidão " cósmica " de Pascal
é o pendant do vazio
de sua classe social
cuja hegemonia está para terminar
os germes da revolução francesa
que vai derrubar a nobreza
e colocar a burguesia no poder
já estão no ar
Pascal ouve nos céus
o tremendo silêncio
de uma classe que já disse
tudo que tinha a dizer
pela boca da história."

(Paulo Leminski)



05- Solidão


Nas nuvens cor de cinza do horizonte
A lua amarelada a face embuça;
Parece que tem frio, e no seu leito
Deitou, para dormir, a carapuça.
Ergueu-se, vem da noite a vagabunda
Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
Vem nua e bela procurar amantes;
É doida por amor da noite a filha.
As nuvens são uns frades de joelhos,
Rezam adormecendo no oratório;
Todos têm o capuz e bons narizes
E parecem sonhar o refeitório.
As árvores prateiam-se na praia,
Qual de uma fada os mágicos retiros...
Ó lua, as doces brisas que sussurram
Coam dos teus lábios como suspiros!
Falando ao coração que nota aérea
Deste céu, destas se desata?
Canta assim algum gênio adormecido
De ondas mortas no lençol de prata?
Minh'alma tenebrosa se entristece.
É muda como sala mortuária...
Deito-me só e triste, sem ter fome
Vendo na mesa a ceia solitária.
Ó lua, ó lua bela dos amores,
Se tu és moça e tens um peito amigo,
Não me deixes assim dormir solteiro
À meia-noite vem cear comigo!

(Álvares de Azevedo)




Poema do dia:

"Tudo está tão escuro
As trevas enchem meus olhos
De dor, ódio, traição
Tudo tão deserto, tão gélido
Sombras cercam meu pensamento
Lágrimas correm por minha face
Gotas minúsculas
De uma maiúscula solidão
Solidão que traça minha busca sem razão
Por um ser que nem, ao menos, eu conheço.
Oh, vento! Onde está que não o ouço?
Quero que mova esse moinho
Que carrega o presente para o passado
Que nos faz esquecer
Ou finge esquecer lembranças
Lembranças de um passado tão presente
Que não sai da memória da gente
Que nos aperta, que nos inferioriza
Que torna a vida tão restrita
Oh, vento! Onde está que não o ouço?
Por quê foge de minha infortunada procura?
Resgate-me, antes que me destruam
Ressuscite-me, antes do meu último suspiro
Lá estava eu, no meu castelo de cristal
Na minha redoma de vidro
Reluzente, indestrutível
Até você chegar pelo portão de entrada tão adorável
E desabar um império tão firme, tão invencível
Declarei a minha nação que a defenderia contra qualquer inimigo
Mas se o inimigo fosse você , me renderia sem resistência
Sem armas você me controlou
E com suas armas você me deixou
Oh, vento! Por quê você, fiel amigo, não me ouve mais?
Largou-me à mercê das tempestades da paixão
Num deserto de ilusões, sem meu amor
Sem a fonte do meu viver, minha moradia
Meu refúgio, meu cais, meu porto seguro
Oh, vento! Ouça-me:
Sem ele não sou nada
Leve-me para o palco dos anjos
Pois a loucura já tomou meu corpo
Oh, vento! Ouça-me:
Sinto meu corpo suspirar, levitar
Há algo estranho em mim
Dores não existem
Só alegrias restam
Algo tão esquecido, tão perdido
Que se mantinha firme
Até o dia que se tornasse pleno
Até hoje
Quando fechei meus olhos e não mais vi
As rosas e os espinhos da minha tenra e ingrata vida."

(Ennirak)



HASTA!


setembro 19, 2004

Dando um tempo na solidão, mas não muito distante dela... A VILA

HOLA!




Uma frase que sempre costumo ouvir... " Ah, crítico gostou, Karinne também gosta e o inverso também é verdadeiro". Mas como dizia minha temível professora de Português e Redação... "Toda regra tem exceção"... Eu sei que geralmente vou ao encontro das idéias dos críticos, mas não sou manipulada pelas suas opiniões. Um exemplo claro é A Vila.

Quarto filme do M. Night Shyamalan, que fez também os ótimos Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais, conseguiu aqui chegar ao ápice da sua carreira cinematográfica. O filme retrata o cotidiano de um grupo de habitantes de um pequeno vilarejo no século 19. Escondidos por uma mata sufocante, eles vivem com seus próprios recursos, produzindo tudo que ullitizam. Todavia aquela aparente calmaria está prestes a ruir, já que o antigo pacto com as criaturas da floresta foi quebrado. Com sua direção segura e talentosa, Shyamalan faz com que o ar dos nossos pulmões fiquem rarefeitos de tanto hiperventilarmos de apreensão e temor... Animais silvestres mortos cruelmente, marcas de vermelho nas portas, nada será como antes...

Com uma bela direção de arte e contando com a simbiose perfeita entre Shyamalan e James Newton Howard, sua direção cria um ar de suspense e mistério semelhante ao nosso alvoroço em chegar à última página de um bom livro.

Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver, Brendan Glesson e a novata e não menos talentosa Bryce Dallas Howard são alguns dos misteriosos habitantes dessa cidadela. Agora compreendo porque o Lars Von Trier confiou o papel central da continuação de Dogville, Manderlay, a essa garota. Em uma interpretação sutil, sem os cacoetes habituais dos cegos no cinema, contudo forte, ela consegue se sobrepor até os mais experientes como Hurt e Weaver. Weaver, por sinal, está bem longe da nossa idolatrada Ripley, mostrando que não é uma atriz de um personagem só. Brody consegue não cair na caricatura dos doentes mentais e nos revela que o Oscar às vezes é justo. Hurt humaniza tanto seu personagem, que até mesmo compreendemos suas motivações após abertura da caixa de Pandora.

Phoenix merece um páragrafo só pra ele. Contido, trabalhando com gestos e olhares, nos encanta com aquele típico garoto do lado, introspectivo, misterioso, com um ar teoricamente blasé, mas de atitudes absurdamente altruístas, facilmente apaixonante. Irmão do saudoso River, o patinho feio portador de lábio leporino, cresce quando as câmeras se ligam. No seu primeiro filme de destaque, estrelado por Nicole Kidman, faz um papel denso e chama atenção da crítica. Sempre tentando fazer o papel de anti-galã, em personagens politicamente incorretos, ou mesmo notórios vilões, fez o caminho inverso do seu irmão e, mesmo assim, confirma o talento genético. Indicado ao Oscar por Gladiador, foi injustamente esquecido pela sua atuação no ótimo Os contos proibidos do Marquês de Sade, onde vive um padre bondoso, apaziguador, diretor de um asilo de loucos, amigo confidente do Marquês e que nutre um amor proibido pela lavadeira do asilo vivida com brilhantismo por Kate Winslet. Se formos olhar a transformação do personagem de Phoenix durante o filme, vimos quão grande ator ele se tornou e já entregaríamos de bandeja aquele homúnculo dourado que um dia,certamente, será seu.

E é o personagem de Phoenix o divisor de águas do filme. Após certos acontecimentos, segredos revelados, vemos que aquela vila está mais perto do nosso cotidiano do que pensávamos. Torna-se explícito a paranóia que a violência, a ganância, o individualismo exacerbado geraram. Somos alimentados pelo medo, nos prendemos em nossas casas, construímos muralhas da China, isolamo-nos... Câmeras de vídeo, blindagem, cerca elétrica, alarmes, armas, terrorismo, guerras... Tornamo-nos isolados, sufocados e alienados.

E a partir da abertura da caixa de Pandora, recordei-me de Dogville e Tiros em Columbine... Não podemos fugir de nós mesmos, das nossas raízes, da nossa cultura, da nossa essência. Concretos, paredes, matas nunca irão nos proteger de nós mesmos.


HASTA!

setembro 17, 2004

As várias nuances da solidão (parte 8)

HOLA!


VÁRIAS IMAGENS DA SOLIDÃO


Comparem... Em que imagem notamos mais a solidão? Reflitam...



Amyr Klink

"Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão.
Um estado interior que não depende da distância nem do isolamento; um vazio que invade as pessoas e que a simples companhia ou presença humana não podem preencher. Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti. Nunca. Em momento algum. Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudade, mas não estará só!"


Edward Hopper



"Edward Hopper é o poeta da solidão. Pessoas que o conheceram afirmam que o isolamento e alienação que caracterizam os seus trabalhos não correspondem a sua verdadeira personalidade, mas a julgar pelo seu legado artístico, a impressão é de uma solidão profunda que nada foi capaz de vencer, nem mesmo um casamento duradouro e uma vida familiar sólida. Chamado de artista da alienação por muitos críticos, pela maneira como os seus personagens parecem estar no isolamento como se não participassem realmente do mundo, Hopper traz em toda sua obra essa marca que o caracteriza nitidamente, como se fosse uma assinatura. Há uma atmosfera de alienação e solidão em todos os seus personagens."




Bridget Jones

Balzaquiana? Nas proximidades? A pressão da sociedade aumenta cada vez mais... Perguntinhas irritantes... Tem namorado, noivo, marido? Vai ficar para titia? Olhamos ao redor... conhecemos cada detalhe desse lugar... os móveis, os papéis, panelas a lavar, a tv sempre ligada, som fossa na rádio, uma absurda carência... Quem nunca foi Bridget Jones? Quem nunca cantarolou uma música melancólica? E pensamentos bizarros? Quem nunca se apaixonou pelo cara errado e nem deu atenção ao que estava do lado? Quem nunca se embriagou tanto para esquecer a solidão dos dias? Quem nunca tentou uma dieta, uma crendice qualquer para sair do grupo das solitárias? Onde está o príncipe? Será que ele nunca vem? Ou simplesmente não existe? Ou pior, é um sapo? Não devemos perder o humor, assim como ela nunca perdeu... Há esperanças... Vamos fazer uma longa investigação... Descobrir o paradeiro de alguém... Onde está você, Mark Darcy? Ééééé... Bridget é um pouco ou muito de todas nós...



Charlotte Lost in Translation in Tokyo

Charlotte é uma recém-casada que é formada em Filosofia... Diploma teórico... Seu marido está trabalhando no Japão como fotógrafo... Ausência... Charlotte passa seu tempo vagueando pela cidade... Hipnotizada por aquela cidade claustrofóbica e ofuscante... Estranha no ninho... Conhece Bob... Sintonia... Sentimento... Parafraseando Rainer Maria Rilke "Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra."... Mesmo que por um breve instante... Sussurros... Selo de despedida... Ou de reencontro? Sozinha permanente ou temporariamente? Não importa... Agora tudo soa diferente...



Poema do dia:

S o l i d ã o


"Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo... isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar... isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe às vezes para realinhar
os pensamentos... isto é equilíbrio.

Tampouco é o claustro involuntário que o destino
nos impõe compulsoriamente,
para que revejamos a nossa vida...
isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.

Solidão é muito mais que isto.

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma !!!"

(Fátima Irene Pinto)




HASTA!

setembro 10, 2004

As várias nuances da solidão (parte 7)

HOLA!


MEU NOME É SOLIDÃO (parte II)


01- Elliott Smith



Elliott Smith nos deixou em outubro do ano passado. Muitos nem o conheciam, mas eu me apaixonei por sua voz suave, tristonha após assistir Gênio Indomável. Ao sair do cinema, dei uma de Sherlock Holmes ou de Hercule Poirot e fui vasculhar na net sobre o dono daquela voz que tanto me cativou. Já com a sua ficha completa, usei de todos os métodos ilícitos e adoráveis que a internet nos dispõe... Mesmo assim, adquiri a trilha sonora do filme e a partir daí Miss Misery e Between the bars vivem no repeat do meu som.

Como já disse em um post anterior, Elliott Smith é a tradução literal de uma solidão profunda. Após sua morte, alguns sites lhe fizeram grandes homenagens e vou citar uma mensagem em particular que o define e que me deixou completamente absorta e sem palavras:

"Elliott Smith era feio. Parecia sempre querer esconder seu rosto nas fotos – geralmente posava olhando para baixo – ou então mostrava-se visivelmente desconfortável com a presença da câmera. Quase nunca rindo, simplesmente olhando a lente... canções maravilhosas... compara sua existência a um filme mudo, como se ele fosse o palhaço que perde o objeto que acabou de encontrar e se senta para ter que se levantar logo em seguida, num ciclo eterno e mudo... Gostar de Elliott é gostar de melodia, de uma voz suave, doce, que acaricia seus ouvidos... Em seus discos, letras sobre solidão escritas de uma forma única. A solidão de Elliott era quase filmada... sempre estava inserido como um observador deslocado, sem lugar naquela realidade...

... A solidão, em seu maior peso, que atinge o auge em canções como “Rose parade”, na qual descreve o desfile do qual foi convidado a participar, andando como o coelhinho da Duracell atirando balinhas que parecem dinheiro para as pessoas. Não participa da parada, fica ali, fumando seu cigarro e observando aquele tipo de felicidade (será felicidade?), para concluir que quando limparem a rua ele será a única merda que ficou para trás... Elliott era a alma sensível que a cultura americana adora rotular de loser. E foi cantando suas derrotas que chegou à uma indicação ao Oscar, por “Miss Misery”, parte da trilha de Gênio Indomável, de 1997. Uma canção que impôs respeito apesar de sua letra depressiva: “Eu vou fingir durante todo o dia com a ajuda de Johnny Walker Red/ Enviar a chuva venenosa pelo dreno para colocar pensamentos ruins na minha cabeça”...

... Mais que um exercício literário, era sentimento puro... Me perguntava como um cara tão capaz de observar o mundo, de fazer a gente acordar para realidade quando cantava algo como “ninguém partiu o seu coração, você mesmo o partiu porque não consegue ir até o fim” (“Alameda”) não conseguia achar para si mesmo serenidade... Adeus, menino. Fique bem, Elliott."



** A homenagem completa pode ser vista em Elliott Smith, 1969-2003


02- Ian Curtis (vocalista do Joy Division)



Foi influência para artistas como Morrissey e Renato Russo. Suas músicas versavam sobre enigmas, desespero, melancolia, angústia, dor, solidão, misturados e apresentados de maneira poética e emocionante.

A idéia de formar a banda surgiu em 1976 com os amigos Bernard (guitarrista) e Peter Hook (baixista). Após a passagem de dois bateristas, Stephen Morris assumiu as baquetas e, no vocal, estava "o poeta dos desesperados", Ian Curtis. Joy Division era o nome onde, na Segunda Guerra Mundial, se mantinha as presidiárias e prostitutas para satisfazerem os desejos sexuais dos oficiais alemães nos campos de concentração.

"Joy Division começou a criar uma sonoridade original, fugindo da influência punk inicial, acrescentando ao peso das guitarras a melancolia e o clima dark que lhe seriam característicos. Tudo isso impulsionado pela voz grave de Ian, que, além de um grande cantor, foi um dos maiores poetas do rock, hipnotizando o público ao discorrer sobre temas como solidão, angústia e depressão...

... Muito dessa fama inicial da banda também se deveu ao fato de Ian Curtis ter se descoberto epiléptico. Os shows, agora não muito freqüentes e concorridos, eram realizados com o palco à meia-luz, e os músicos mal se movimentavam. Junto ao clima e as canções lúgubres, a performance de Ian no palco levava o público ao delírio: o cantor dançava imitando os movimentos que fazia durante as crises da doença...

... A poesia de Ian Curtis se revela cada vez mais aprimorada, refletindo o seu estado de espírito desolado e confuso. Em faixas como “Disorder”, ele canta “New sensations bear the innocence/ Leave them for another day/ I've go the spirit/ Lose the feeling/ Take the shock away” (“Novas sensações arcam com a inocência/ Deixe-as para um outro dia/ Tenho que levar o espírito/ Perder o sentimento/ Levar um choque novamente”). Em “Insight”, Ian fala de sonhos e niilismo: “Guess the dream always end/ They don't rise up, just descend/ But I don't care anymore/ I've lost the will to want more” (Acho que o sonho sempre termina/ Eles não ascendem, apenas descendem/ Mas eu não me importo mais/ Perdi a vontade de querer mais)...

... Nas letras, Ian Curtis continuou expondo a sua depressão e o seu mundo interior repleto de mágoas, em faixas como “Isolation”, sobre a solidão: “Surrendered to self-preservation / From others who care for themselves / A blindness that touches perfection / Appears just like anything else” (“Rendido à autodefesa / Daqueles que só se preocupam consigo mesmos / A vida quando alcança a perfeição / Parece-se com quase todo o resto"). Ou em "A Means to an End", em que Curtis parece alertar sobre o seu fim próximo: “A house somewhere on foreign soil / Where aching lovers called / Is this your goal, your final needs / Where dogs and vultures eat? / Committed still, I turn to go / I put my trust in you” (“Uma casa em algum lugar em solo estrangeiro / Aonde amantes magoados chamam / Sua parada é lá, sua meta final / Aonde comem os cães e os abutres? / Ainda poderei, eu vou partir / Eu deposito minha confiança em você")..."

A epilepsia, problemas familiares, adultério, separação, abuso de drogas, tudo culminou com sua morte com apenas 23 anos. Enforcou-se e tornou-se mito para uma geração. Quem nunca ouviu o grande hit do Joy Division Love will tear us apart sendo cantado por outras bandas? Certas canções são eternas...

Após a morte de Ian, o restante da banda formou a, até hoje, consagrada banda New Order. Tenho certeza que se o Ian ouvisse Bizarre Love Triangle iria surtar... Mais Ian Curtis impossível...


03- Álvares de Azevedo



Representante-mor do Mal do Século, a conhecida segunda fase do Romantismo brasileiro, foi discípulo de Byron e produziu uma obra poética de alto nível, onde relatava sua insatisfação com o mundo real, toda sua solidão, tédio, tristeza, melancolia e seu fascínio pela morte.

"Sua obra tem uma linguagem inconfundível em cujo vocabulário são constantes as palavras que expressam seus estados de espírito, a fuga do poeta da realidade, sua busca incessante pelo amor, a procura pela vida boêmia, o vício, o culto à solidão, a morte, a palidez, a noite, a mulher... "

"Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz o dobre de um sineiro..."

"Parece-me que vou perdendo o gosto,
Vou ficando blasé: passeio os dias
Pelo meu corredor, sem companheiro,
Sem ler, nem poetar... Vivo fumando.
Minha casa não tem menores névoas
Que as deste céu d'inverno... Solitário
Passo as noites aqui e os dias longos..."



04- Rita Hayworth




"Os homens vão para a cama com Gilda, mas acordam comigo"...
Essa frase célebre da atriz me martela por longo tempo... E é dela também a seguinte frase " Todas as mulheres têm uma certa elegância que é destruída quando tiram a roupa". Seria Gilda ou a roupa como uma segunda natureza ou uma segunda fisionomia que se sobrepõe à verdadeira? A roupa, assim como a maquiagem, permitem assim criar um ser humano idealizado, que se aproxima de uma perfeição que esconde a verdadeira identidade de cada um.

É algo muito pessoal dizer que uma atriz que irradiava, em todos cantos do mundo, sua beleza, alegria, carisma e simpatia seria, na verdade, solitária. Mas é uma questão de olhar... Fixo-me nele e vejo máscaras, pó de arroz, blush, mas não consigo reconhecer a mulher por detrás da personagem. Diziam que ela era bastante tímida e insegura... Motivo para tantos casamentos desfeitos? Penso que também se sentia entendiada por ser apenas um sex symbol e não ser reconhecida pelo seu talento como atriz. Foi acometida precocemente, aos 42 anos, pelo Alzheimer. Muitos confabulavam que suas aparições cada vez menos freqüentes eram devido ao alcoolismo... Boato ou verdade? Mas o Alzheimer é a doença da solidão. Doença degenerativa do cérebro que acarreta na perda progressiva das funções intelectuais como, por exemplo, a memória, e também das funções físicas. Gradual e progressiva perda da memória... A mente em trevas... Solitária... Dependência para se vestir, comer... Instabilidade do humor... Parecia instável, neurótica, completamente alcoolizada... Aquele olhar mais perdido ainda...


05- Frida Kahlo



Lembro que tinha uns 13 a 14 anos, quando conheci Frida Kahlo em um lugar totalmente inesperado. Estava em um salão de beleza (cabeleleira, pro sexo masculino desinformado), uma fila de espera enorme para cortar o maldito cabelo e fazer hidratação (coisas de mulher... salão, meu fiel amigo e inimigo do meu bolso), peguei aquelas típicas revistas de salão (Caras, Contigo, Quem, Nova, Cláudia, Marie Claire) e comecei a folhear. Uma foto, ou melhor, um quadro, me chamou atenção. Uma mulher com olhos tristes, com nítida expressão de amargura, solidão e insatisfação. Comecei a ler sua biografia e a cada trecho mais me tornava fã dessa grande mulher.

Nasceu no México em 1907 e ainda criança, foi vítima de poliomielite que causou uma atrofia na sua perna direita, deixando-a coxa. Desde cedo, interessou-se pelas artes e pela política e tinha uma mentalidade à frente do seu tempo. Aos 18 anos, sofreu um grave acidente de ônibus. Com fraturas múltiplas e tendo o corpo atravessado por uma barra de metal que lhe atingiu a coluna vertebral, passou por uma série de cirurgias, um quadro arrastado, bastante grave e com prognóstico reservado. Contudo, ela conseguiu sobreviver e durante o período de convalescença começou a pintar para aliviar a dor e esquecer o tédio de estar presa a uma cama. Todavia esse grave acidente a limitou até os fins dos seus dias.

Legítima integrante das mulheres cabra da peste, conseguiu voltar a caminhar, mesmo com dificuldades. Resolveu procurar o famoso muralista mexicano Diogo Rivera para dar uma guinada na sua carreira artística. Impressionado pelo seu talento, Diogo não só se encantou com a pintora, como também com a mulher Frida Kahlo. Sua carreira e sua vida pessoal finalmente se acertam.

Embora casados e apaixonados, Diego tinha outras mulheres. Frida, pela sua beleza exótica, também atraía homens e mulheres. Apesar dos relacionamentos extraconjugais, ambos se mantinham unidos e sentiam admiração mútua por seus talentos. Quando se separavam, a saudade de Rivera se refletia em quadros. Uma das suas maiores frustrações era não poder ter filhos devido a sua saúde delibilitada pelas seqüelas do acidente. Chegou até engravidar algumas vezes, mas sofreu abortos espontâneos, retratando-os em um dos seus mais belos quadros.

Apesar de apaixonada e ser casada por um pintor reconhecido e admirado por todos, Frida era uma mulher independente, de brilho próprio, de temperamento forte. Adorava a boemia, festas, cantar, beber. Teve amantes de ambos os sexos, muitos deles envolvidos com o meio artístico, todavia essa flexibilidade conjugal foi maculada após a traição de Rivera com sua irmã. Separaram-se, mas ainda assim continuaram muito ligados.

Frida costumava dizer que havia sofrido dois grandes acidentes em sua vida: um deles foi a batida do ônibus e o outro, Diego. Divorciaram-se em 1940, e voltaram a se casar um ano depois, união que foi mantida até a morte da artista em 1954.

"Mesmo com uma obra extremamente subjetiva, marcada por auto-retratos e representação de emoções muito específicas de momentos pontuais em sua vida, a artista inseria elementos da identidade cultural mexicana em seus trabalhos. Seus quadros são caracterizados por cores vivas, especialmente tonalidades de vermelho e amarelo, com traços firmes e marcados. São recorrentes os temas ligados ao sofrimento físico, com intervenções da medicina, tão presentes em sua vida. Sobre a pintura de auto-retratos, ela afirmava que se sentia muito sozinha e, afinal de contas, o assunto que mais conhecia era ela mesma. Nas pinturas, a artista não tinha pudores em explicitar sangue, órgãos e outras representações torturantes. A maioria dos trabalhos revela a visão de Frida sobre si mesma e sua realidade."

Em seus quadros, Frida disseca a alma feminina. Apunhala mais ainda a ferida ao abordar questões que sempre tentamos ocultar, que nos perturbam... complexos, medos, frustrações, desejos, sensações de poder e submissão, vaidade, sensualidade, força, dor, solidão, sedução, alegria e insatisfação, beleza, amor, etc. Quando se retratava em quartos, esses eram frios e refletiam a sua própria solidão.

Sua última frase em seu diário foi uma constatação do alívio que traria sua morte... "Espero a partida com alegria... e espero nunca mais voltar... Frida"

Há uma frase de Nietzsche que poderia resumir muito bem a obra de Frida: "Quem quer que haja construído um novo céu, só no seu próprio inferno encontrou energia para fazê-lo!"

** Coluna Partida (1944)

"Neste auto-retrato, uma coluna jónica, partida em vários pontos, toma o lugar da coluna fraturada de Frida Kahlo. A abertura do tronco, os espinhos e o colete ortopédico, a par da paisagem desabitada, tornam-se símbolo do sofrimento e solidão da artista."



Citação do dia:

"... Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de atenção".

(Trecho da música Esperando por mim - Legião Urbana).


HASTA!

As várias nuances da solidão (parte 6)

HOLA!



MEU NOME É SOLIDÃO (parte I)



01- Charlie Chaplin (Carlitos)



Londres... 16 de abril de 1889... Nasce um talento... A primeira apresentação do ator, aos 5 anos, foi cantando uma música no lugar de sua mãe, que havia ficado doente.

Grande ator, roteirista, diretor e produtor cinematógráfico. Teve uma infância duríssima em Londres, vivendo na miséria, morando em orfanatos, com uma mãe, uma atriz mal-sucedida, com problemas psiquiátricos, que mesmo assim mostrou seu talento desde cedo e nos fez ter consciência social sobre as mazelas da vida através do humor. Sua vida pessoal foi bastante comentada e criticada, com vários casamentos, na sua maioria, com mulheres muito jovens, além de ser tachado de comunista.

O gênio do cinema criou a figura mais conhecida da sétima arte, nosso querido Vagabundo, que foi inspirado na infância pobre do próprio Chaplin. Usava um fraque, sapatos grandes, um chapéu e uma bengala que mexia de modo particularmente emocionante. Fez obras primas como Luzes da Cidade (nosso Vagabundo se apaixona por uma vendedora de flores cega), O Garoto, A Quimera do Ouro, O Garoto de Charlot, O Barba Azul; O Circo, Luzes da Ribalta, Opinião Pública e Um Rei em Nova York, dentre outros.

Chaplin abandonou o papel do Vagabundo em Tempos Modernos (sátira mordaz à vida industrial onde interpreta um empregado de uma fábrica supermoderna, que entra em crise, perde o emprego e é obrigado a enfrentar a Depressão Americana). Passou a representar personagens diversificados e esta transição é marcada em O Grande Ditador.

O Grande Ditador foi o primeiro filme de Chaplin inteiramente falado, uma mescla de comédia com uma afiada e irônica crítica política. Chaplin representa dois papéis no filme, o de um barbeiro judeu e o de um ditador, um “Hitler” do país da Tomania.

Segundo Chaplin, "A solidão é repelente. Tem um aura de tristeza, uma inadequação para atrair ou interessar, a tal ponto que nos sentimos ligeiramente envergonhados quando ela nos rodeia. Mas, num grau maior ou menor, atinge a todos." O Vagabundo nos fazia rir, contudo tinha um olhar tristonho, um jeito meio solitário de ser, até hoje me pergunto o porquê? Segundo o escritor Pierre Leprohon, "Sob a imagem de Carlitos, transparece a alma de Chaplin, ou seja, o seu destino, esse profundo sentimento de solidão que faz de um e de outro vítimas da inquietude. A consciência dessa solidão e do seu desesperado inebriamento conferem a Carlitos uma grandiosidade comovedora, sem dúvida porque atrás dessa fantasia poética se esconde o drama interior de Chaplin." Entretanto, continuam minhas divagações... Carlitos era um reflexo da sua vida real ou um pouco de cada nós? Ou seria ambos?


02- O palhaço



No circo das nossas vidas quem não é palhaço? Tornou-se folclórico dizer que o palhaço tem uma alma triste. Sua intenção é nos animar, mas está escondido atrás de tantas máscaras, que sua alegria nos parece surreal. Mas essa tristeza seria derivada da sua solidão? Seu olhar é vago, de alguém que olha para estrelas à procura de um sentido na vida, que diverte os outros para suplantar o vazio do seu peito. Nunca gostei de circo, preferia os parques de diversão. Na apresentação dos palhaços, não ria, solidarizava-me com sua solidão... Lembro do Didi em Saltimbancos Trapalhões naquela cena final na arena do circo... Lágrimas escondidas.. Fragmentos de uma solidão...


03- Holden Caulfield



Personagem principal do livro O Apanhador no Campo do Centeio, de J.D. Salinger, Holden é um ser complexo... Seria muito fácil rotulá-lo como um aborrecente, perturbado, revoltado. Salinger retrata o cárcere de uma vida pós-guerra. Holden não gosta de nada, não pára em um colégio, sente-se preterido, procura um motivo para viver, é imcompreendido, inquieto, sensível, entediado, deprimido, solitário, assumidamente covarde, divertidamente mentiroso, com um humor ácido... Odeia a hipocrisia da sociedade, seus falsos moralismos... Uma decepção inevitável... Às vezes, dá vontade de fugir como ele, fugir de si mesmo e de todos, ser outro alguém..."Eu gostaria de ser um surdo-mudo, para nunca mais ter que ouvir ou falar com ninguém (...)" - dizia Holden...

Seu retrato fiel, de sua relação com família, amigos e a própria vida ou mesmo a perda da inocência, é o trecho em que mostra preocupação com os patos no Central Park: "(...) Eu estava pensando no laguinho do Central Park, aquele que fica lá pro lado sul. Imaginava se ele estaria gelado quando eu voltasse para casa e, se estivesse, para onde teriam ido os patos. Estava pensando para onde iam os patos quando o lago ficava todo gelado, se alguém ia lá com um caminhão e os levava para um jardim zoológico ou coisa que o valha, ou se eles simplesmente iam embora voando."

Seu vazio existencial é denotado em um trecho onde cita "...fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer – ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice."

Acompanhamos sua viagem de auto-conhecimento, suas encrencas e constatações e chegamos a cena da sua redenção e percepção sobre a impossibilidade dos seus sonhos naquela chuva, ao olhar um carrossel e sua pequena irmã: " Puxa, aí começou a chover pra burro. Um dilúvio, juro por Deus. (...) Mas nem liguei. Me senti feliz de repente, vendo a Phoebe passar e passar. Pra dizer a verdade, eu estava a ponto de chorar de tão feliz que me sentia. Sei lá por quê. É que ela estava tão bonita, do jeito que passava rodando e rodando, de casaco azul e tudo. Puxa, só a gente estando lá para ver." O apanhador no campo do centeio é um exercício sobre o comportamento humano, o fim dos sonhos infantis e a transição, muitas vezes cruel, para a realidade dura da vida adulta. Eu tenho um pouco de Holden em mim e vocês?

** Jake Gyllenhaal interpreta Holden no ótimo filme Por um sentido na vida (The Good Girl). Garoto problemático, tímido, aficcionado pelo personagem principal do livro, que trabalha em um supermercado onde nutre uma paixão pela sua colega entediada e mal-casada, a personagem da eterna FRIEND Jennifer Aniston. Impressionante como o Jake tem um ar entediado, incompreendido, melancólico e soltário em alguns dos seus filmes tais como o citado acima, Donnie Darko e Vida que segue (Moonlight Mile) ...


04- Esther Greenwood



Versão feminina do Holden, a personagem central do livro A redoma do vidro de Sylvia Plath encontra-se aprisionada no seu mundo, a incomunicabilidade ao seu redor. Alter-ego da própria poetisa, A Redoma foi seu único romance, lançado no mesmo ano do seu suicídio, sob o pseudônimo de Victoria Lucas, e é com certeza a sua obra mais famosa.

"É fácil reconhecer Plath nas atitudes, dúvidas e neuroses da personagem. Esther é uma jovem provinciana, aluna brilhante de uma universidade do interior que um dia tira a sorte grande e parte para um estágio em uma das mais glamourosas revistas femininas de Nova York. Mas Esther, que em um primeiro momento mostra-se uma mulher segura e ponderada em meio a um grupo de mulheres fúteis, não resiste ao jogo de vaidades e ao mundanismo do seu grupo. O que poderia ser um mundo de oportunidades torna-se uma prisão opressora. Aos poucos, outros aspectos sombrios de sua vida vão sendo desvelados: o frágil relacionamento com a mãe, a figura inexpressiva do pai e o relacionamento mal resolvido com Buddy Willard, exemplo de um tipo de cretino vaidoso muito comum nos Estados Unidos dos anos 50, que Plath — que sofreu indignidades cruéis nas mãos dos homens — construiu com ironia e desprezo cortantes.

Indecisa sobre seu futuro profissional e assombrada pelos fantasmas do passado, Esther vê a volta para casa como a única solução viável. E é lá, rodeada pela mãe de atitudes burocráticas e um ambiente social pouco afetivo, que Esther chega ao limite e tenta se matar. A partir daí, acompanhamos seu calvário por diversos hospitais psiquiátricos, as sessões de eletrochoque e as crises de insanidade que em muitos momentos — o que é mais assustador — beiram a lucidez. "


Enquanto acompanhamos sua "Via Sacra", seu definhamento, é interessante notarmos que Esther tentava resolver seus problemas tomando um simples banho... Seria uma maneira de lavar sua alma? Uma resolução de vida: conheçam mais seus chuveiros...

Nós, mulheres, por vezes, somos rotuladas como frívolas, exageradas, como se nossa vida fosse uma ópera. Solidão x Carência X Depressão? Nesse jogo não há vencedor. O infarto pode ser uma das piores dores, mas a angústia do embate entre essas prováveis amigas (solidão, carência e depressão) é insuportavelmente dolorosa.

** Sylvia Plath



05- Amélie Poulain



Um moderno conto de fadas... Assim é O fabuloso destino de Amélie Poulain. A história nos conta sobre uma garota que toma para si a responsabilidade da felicidade de todos ao seu redor, entretanto para sua própria vida prefere o conforto e a segurança da solidão... Orfã de mãe... Pai indiferente que confunde a taquicardia de Amélie com uma doença. A felicidade que sentia no contato mais íntimo que mantinha com o pai fazia seu coração palpitar, mas essa felicidade a rotulou de doente. Para muitos o ambiente familiar às vezes sufoca, adoece e o coração bate tão lentamente como um cortejo fúnebre.

"O Destino Fabuloso de Amélie Poulain é sobre personagens que se barricam nos seus cubículos entre cores, caprichos, levezas e superfícies para assustar a solidão e camuflar as ausências." Um filme leve, delicado, sensível, daquele tipo que nos faz pensar sobre a forma com que lidamos com nossa própria solidão. É um filme, em resumo, sobre a solidão. A partir de uma caixa encontrada acidentalmente em seu apartamento, Amélie resolve dar um novo rumo à sua vida, afastando o medo que tinha de se relacionar com as pessoas. Tornou-se cupido, de uma solidariedade exemplar, sempre tentando ajudar os outros, nem que sejam aquelas figuras pitorescas. Contudo, ao carregar essa bandeira do altruísmo, ela também começa a se descobrir e aprende a amar.

Quando assistia ao filme, uma cena em especial me paralisou. Amélie estava à espera do desconhecido que fez seu coração literalmente palpitar e, devido a demora de sua chegada, começou a questionar os motivos do atraso e na sua imaginação fértil pensara que ele fora chamado para uma guerra ou guerrilha e morrido, não podendo ir ao seu encontro... Mais Karinne impossível...

Amélie nos ajuda a abrir a caixinha de segredos dos nossos corações. Sentimentos se confundem... Alegria, tristeza, solidão, atenção, compaixão, esperança... Guarde todos os pedacinhos desse quebra-cabeça, monte-os e comece de novo...


Canção do dia (pra mudar um pouquinho) :

Essa música apesar de uma temática infantil, mostra-nos a solidão inevitável de um amigo do peito que já sofre pela futura ausência do melhor amigo e confidente. Possui tantas qualidades... Para evitar ser redundante (difícil!!), ela é perfeita e sempre choro ao ouvi-la ...


O Caderno

Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o be-a-bá.
Em todos os desenhos coloridos vou estar:
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel.

Sou eu que vou ser seu colega,
Seus problemas ajudar a resolver.
Te acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver.
Serei de você confidente fiel,
Se seu pranto molhar meu papel.

Sou eu que vou ser seu amigo,
Vou lhe dar abrigo, se você quiser.
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel.

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer.
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer.
Só peço a você um favor, se puder:
Não me esqueça num canto qualquer."

(Chico Buarque)



HASTA!

setembro 07, 2004

As várias nuances da solidão (parte 5)

HOLA!


A SOLIDÃO ATRAVÉS DAS MÚSICAS (parte II)





CANÇÕES NACIONAIS:


01- Vento no litoral - Legião Urbana


De tarde quero descansar, chegar até a praia
Ver se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras.
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.

Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo.

Quando vejo o mar
Existe algo que diz:
- A vida continua e se entregar é uma bobagem.

Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim.
Quero ser feliz ao menos.
Lembra que o plano era ficarmos bem?

- Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos.
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.



02- Dança da Solidão - Paulinho da Viola


Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão
Camélia ficou viúva,Joana se apaixonou
Maria tentou a morte, por causa do seu amor
Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado

Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia
Ponho os dedos na viola, contemplando a lua cheia
Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura
Quem beber daquela água não terá mais amargura.



03- Refém do Silêncio - Baden Powell


Quem da solidão fez seu bem
Vai terminar seu refém
E a vida pára também
Não vai nem vem
Vira uma certa paz
Que não faz nem desfaz
Tornando as coisas banais
E o ser humano incapaz de prosseguir
Sem ter pra onde ir
Infelizmente eu nada fiz
Não fui feliz nem infeliz
Eu fui somente um aprendiz
Daquilo que eu não quis
Aprendiz de morrer
Mas pra aprender a morrer
Foi necessário viver
E eu vivi
Mas nunca descobri
Se essa vida existe
Ou essa gente é que insiste
Em dizer que é triste ou que é feliz
Vendo a vida passar
E essa vida é uma atriz
Que corta o bem na raiz
E faz do mal cicatriz
Vai ver até que essa vida é morte
E a morte é
A vida que se quer



04- Esquadros - Adriana Calcanhoto


Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Trânsito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto pra quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle



05- Triste - Tom Jobim


Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber que ninguém pode
Viver de ilusão
Que nunca vai ser
Nunca vai dar
O sonhador tem que acordar

Tua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que para pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão

Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber que ninguém pode
Viver de ilusão
Que nunca vai ser
Nunca vai dar
O sonhador tem que acordar.



CANÇÕES INTERNACIONAIS:


01- Across the universe - The Beatles


Words are flowing out like
Palavras estão fugindo como
Endless rain into a paper cup
Chuva sem fim dentro de um copo de papel
They slither while they pass
Elas escorregam enquanto passam
They slip away across the universe
Escapolem através do universo
Pools of sorrow waves of joy
Lagos de tristeza tremulam de alegria
Are drifting thorough my open mind
Estão flutuando pela minha mente aberta
Possessing and caressing me
Me possuindo, me acariciando

CHORUS
Jai guru deva om
Jai guru deva om
Nothing's gonna change my world
Nada vai mudar meu mundo (4x)

Images of broken light
Imagens de uma luz interrompida
Which dance before me like a million eyes
As quais dançam diante de mim como milhares de olhos
That call me on and on across the universe
Que me convidam através do universo
Thoughts meander like a restless wind inside a letter box
Sinuosos pensamentos como um vento turbulento dentro de uma caixa de correio
They tumble blindly as they make their way across the universe
Eles tombam cegamente como se fizessem seu caminho através do universo

CHORUS

Sounds of laughter shades of earth
Sons de risadas, sombras da terra
Are ringing through my open views
Estão surgindo através de minhas visões abertas
Inciting and inviting me
Me incitando, me convidando
Limitless undying love
Renascendo o amor sem limites
Which shines around me like a million suns
O qual brilha ao meu redor como milhares de sóis
It calls me on and on across the universe
Me convidando através do universo

CHORUS

Jai guru deva
Jai guru deva




02- Why does it always rain on me - Travis


I can't sleep tonight
Não consigo dormir esta noite
Everybody's saying everything is alright
Todo mundo diz que está tudo bem
Still I can't close my eyes
Entretanto, não consigo fechar os olhos
I'm seeing a tunnel at the end of all of these lights
Estou vendo um túnel no fim de todas essas luzes
Sunny days, where have you gone?
Dias de sol, aonde vocês foram?
I get the strangest feeling you belong
Eu tenho o estranhíssimo sentimento de que é o seu lugar

Chorus
Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Is it because I lied when I was seventeen?
Será que é porque eu menti quando tinha dezessete?
Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Even when the sun is shinning
Mesmo quando o sol está brilhando
I can't avoid the lightning
Eu não consigo evitar o relâmpago

I can't stand myself
Eu não me suporto
I'm being held up by invisible men
Estou sendo segurado por homens invisíveis
Still life on a shelf when
Vida sossegada numa prateleira quando
I've got my mind on something else
Estou com a mente voltada para outra coisa
Sunny days, oh where have you gone
Dias de sol, aonde vocês foram?
I get the strangest feeling you belong
Eu tenho o estranhíssimo sentimento de que é o seu lugar

Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Is it because I lied when I was seventeen?
Será que é porque eu menti quando tinha dezessete?
Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Even when the sun is shining
Mesmo quando o sol está brilhando
I can't avoid the lightning
Eu não consigo evitar o relâmpago

Oh where did the blue sky go?
Oh, aonde foram os céus azuis?
Oh why is it raining so?
Oh por que está chovendo tanto?
It's so cold
Está tão frio

Repeat 1st verse and chorus

Oh where did the blue sky go? oh why is it raining so?
Oh, aonde foram os céus azuis? oh por que está chovendo tanto?

It's so cold
Está tão frio

Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Is it because I lied when I was seventeen?
Será que é porque eu menti quando tinha dezessete
Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Even when the sun is shining I can't avoid the lightning
Mesmo quando o sol está brilhando, eu não consigo evitar o relâmpago
Why does it always rain on me?
Por que sempre chove em mim?
Why does it always rain on
Por que sempre chove em...



03- Wish you were here - Pink Floyd


So, so you think you can tell
Então, então você acha que você pode distinguir
Heaven from Hell,
Paraíso de inferno,
Blue skys from pain.
Céus azuis de dor?
Can you tell a green field
Você pode distinguir um campo verde
From a cold steel rail?
De um trilho de aço frio?
A smile from a veil?
Um sorriso de um disfarce?
Do you think you can tell?
Você acha que pode distinguir?
And did they get you to trade
E eles fizeram você negociar
Your heros for ghosts?
Seus heróis por fantasmas?
Hot ashes for trees?
Cinzas quentes por árvores?
Hot air for a cool breeze?
Ar quente por uma brisa fresca?
Cold comfort for change?
Consolo frio por mudança?
And did you exchange
E você trocou
A walk on part in the war
Uma participação secundária numa peça de guerra
For a lead role in a cage?
Por um papel principal numa prisão?
How I wish, how I wish you were here.
Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui.
We're just two lost souls
Nós somos apenas duas almas perdidas
Swimming in a fish bowl,
Nadando num aquário,
Year after year,
Ano após ano,
Running over the same old ground.
Correndo sobre o mesmo velho chão.
What have we found?
O que encontramos?
The same old fears
Os mesmos velhos medos.
Wish you were here.
Queria que você estivesse aqui...



04- Carnival - Natalie Merchant


Well, I've walked these streets
Bem, eu caminhava por estas ruas
A virtual stage
Um palco virtual
It seemed to me
Parecia para mim
Makeup on their faces
Maquiagens nas suas faces
Actors took their places next to me
Atores tomam seus lugares próximo a mim

Well, I've walked these streets
Bem, eu caminhava por estas ruas
In a carnival of sights to see
Em um carnaval de olhares para ver
All the cheap thrill-seekers
Todas essas pessoas baratas em busca de emoções
The vendors and the dealers
Os vendedores e comerciantes
They crowded around me
Apertam-se ao meu redor

Have I been blind?
Estou sendo cega?
Have I been lost inside myself and my whole mind?
Estou perdida dentro de mim mesma e da minha mente
Hypnotized, mesmerized, by what my eyes have seen?
Hipnotizada, magnetizada, pelo o que meus olhos têm visto?

Well, I've walked these streets
Bem, eu caminhava por estas ruas
In a spectacle of wealth and poverty
Em um espetáculo de riqueza e miséria
In the diamond market
Em um mercado de diamantes
The scarlet welcome carpet that they just rolled out for me
Um tapete escarlate de boas vindas que eles estiraram para mim

And I've walked these streets
E eu caminhava por estas ruas
In the madhouse asylum they can be
Em um hospício, em um manicômio eles podem estar
Where a wild-eyed mystic prophet on a traffic island stopped
Onde um profeta místico de olhos malucos, em uma ilha de trânsito*, parou
And he raved of saving me
E ele se enfureceu por me salvar

Have I been blind?
Estou sendo cega?
Have I been lost inside myself and my whole mind?
Estou perdida dentro de mim mesma e da minha mente?
Hypnotized, mesmerized, by what my eyes have seen
Hipnotizada, magnetizada, pelo o que meus olhos têm visto

Have I been wrong?
Estou sendo errada?
Have I been wise to shut my eyes and play along?
Tenho sido sábia em fechar meus olhos e fingir que concordo?
Hypnotized, paralyzed by what my eyes have found
Hipnotizada, paralisada pelo o que meus olhos têm visto
By what my eyes have seen
Pelo o que meus olhos têm visto
What they have seen?
O que eles têm visto?

Have I been blind?
Estou sendo cega?
Have I been lost?
Estou perdida?
Have I been wrong?
Estou sendo errada?
Have I been wise?
Tenho sido sábia?
Have I been strong?
Tenho sido forte?
Have I been hypnotized, mesmerized
Tenho estado hipnotizada, magnetizada
By what my eyes have found?
Pelo o que meus olhos têm visto?

In that great street carnival
Nesse grande carnaval de rua

Have I been blind?
Estou sendo cega?
Have I been lost?
Estou perdida?
Have I been wrong?
Estou sendo errada?
Have I been wise?
Tenho sido sábia?
Have I been strong?
Tenho sido forte?
Have I been hypnotized, mesmerized
Tenho sido hipnotizada, magnetizada
By what my eyes have found?
Pelo o que meus olhos acharam?

In that great street carnival, in that carnival?
Em um um grande carnaval na ruas, naquele carnaval?


*Superfície pequena no meio da rua, divisa entre diferentes pistas, local onde é proibido estar com o carro sobre.


05- Eleanor Rigby - The Beatles


Ah, look at all the lonely people
Ah, olhe todas as pessoas solitárias
Ah, look at all the lonely people
Ah, olhe todas as pessoas solitárias
Eleanor Rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Eleanor Rigby, apanha o arroz na igreja onde um casamento foi feito
Lives in a dream
Vive em um sonho

Waits at the window, wearing the face that she keeps in a jar by the door
Espera na janela, mostrando a cara que ela guarda em um jarro perto da porta
Who is it for?
Para quem é isso?
All the lonely people
Todas as pessoas solitárias
Where do they all come from?
De onde todas elas vem ?
All the lonely people
Todas as pessoas solitárias

Where do they all belong?
De onde todas elas são ?
Father McKenzie writing the words of a sermon that no one will hear
Padre McKenzie, escrevendo as palavras de um sermão que ninguém ouvirá
No one comes near.
Ninguém chega perto.
Look at him working.
Olha para seu trabalho.
Darning his socks in the night when there's nobody there
Remendando sua meias à noite quando não há ninguém lá

What does he care?
O que ele protege
All the lonely people
Todas as pessoas solitárias
Where do they all come from?
De onde todas elas vem ?
All the lonely people
Todas as pessoas solitárias
Where do they all belong?
De onde todas elas são?

Eleanor Rigby died in the church and was buried along with her name
Eleanor Rigby, morreu na igreja e e foi enterrada junto com o nome dela
Nobody came
Ninguém veio
Father McKenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave
Padre McKenzie e enxuga a sujeira das suas mãos como ele caminha do sepulcro
No one was saved
Ninguém foi salvo
All the lonely people
Todas as pessoas solitárias
Where do they all come from?
De onde todas elas vem?
All the lonely people
Todas as pessoas solitárias
Where do they all belong?
De onde todas elas são?



Dignos de nota:

Maurício - Legião Urbana; A mais bonita - Chico Buarque; Amsterdam - Coldplay; Creep - Radiohead; Like a stone - Audioslave; Miss Misery e Rose Parade - do saudoso Eliott Smith (Tradução literal de uma solidão imensurável).




Frase do dia (já que o assunto é música...) :

"...Vamos comemorar nossa saudade, comemorar nossa solidão..."
Renato Russo



HASTA!

As várias nuances da solidão (parte 4)

HOLA!


A SOLIDÃO ATRAVÉS DA MÚSICA (parte I)


Música serve como registro de nossas vidas. Quem nunca se lembra daquele hit que lhe faz esquecer as lamúrias da vida, ou aquela companheira dos nossos momentos fossa, de carência, de solidão. Os religiosos falam que quando cantamos para Deus, rezamos duas vezes...

Chico Buarque, mais do que ninguém, soube e sabe escrever o nosso cotidiano e transformar poesia em melodia. Infelizmente o nosso cenário musical anda tão pobre e ficamos sem um dos alimentos mais preciosos para nossa alma.

Não entendo como algumas pessoas chegam pra mim e falam: " Não gosto de música...". Não gostar de um estilo específico, compreendo, mas generalizar?

O que seria de mim sem os cantos de ninar, as historinhas contadas embaladas com musiquinhas do recreio estilo "Bem te vi, bem te vi, todo verão, voa junto dentro do meu coração"... ou " Motorista, motorista, olha o taxi, não é de borracha, não é de borracha, não... não... não...". Ou melhores como O Pato, A Casa, O Caderno, Elefante...

O que seria de mim sem o Balão Mágico e seus primeiros álbuns... "Se enamora //Quem vê você chegar com tantas cores//E vê você passar perto das flores//Parece que elas querem te roubar//Se enamora// Quem vê você chegar com tantos sonhos//E os olhos tão ligados nesses sonhos//Tesouros de um amor que vai chegar..."

O que seria de mim sem a trilha de ET e de Saltimbancos Trapalhões. John Williams é um gênio, porque ele conseguiu que uma pirralha de oito anos parasse não só por aquele filme magistral, mas também para aquela trilha soberba, até hoje quando a bicicleta do Elliot sobe aos céus, naquela noite enluarada, eu choro... ET me abriu os olhos para a magia do cinema e lhe agradeço pelo resto da vida... E o grande Chico cooperou com sua trilha magistral nessa obra-prima do cinema nacional ("Ói nós aqui//Ói nós aqui//Hollywood fica//Ali bem perto//Só não vê quem//Tem um olho aberto..." "Uma pirueta//Duas piruetas//Bravo, bravo...")

O que seria de mim sem bandas como U2 ou A-HA (simm... eu gosto!!) que embalaram meu início de adolescência (segredo: era apaixonada pelo Morten rss) ..."I wanna run, I want to hide//I wanna tear down the walls//That hold me inside.//I wanna reach out//And touch the flame//Where the streets have no name..." "Here I am//And within the reach of my hands//She sounds asleep and she's sweeter now//Than the wildest dream could have seen her//And I Watch her slipping away//Though I know I'll be hunting high and low..."

Tanto momentos bons como ruins nos fazem lembrar de uma canção... Início de um amor, fim de um relacionamento, vitórias, fracassos, frustrações, desilusões, família, união, brigas, guerras, violência, perdas, nascimento. Difícil não pensar no Senna e não lembrar do Tema da Vitória e da Canção da América do grande Milton Nascimento... Como não lembrar da ditadura e da música do Geraldo Vandré? Pense... Com certeza achará uma comparação...

Música é a arte da subjetividade e fala por si só...

Hoje não tem TOP5, mas citarei uma trilha sonora, um álbum nacional e um internacional que expressam a solidão.

ÁLBUM NACIONAL: Bloco do eu sozinho - Los Hermanos

Quando tentei escolher meu TOP 5 de músicas nacionais, pensei em citar uma canção do Los Hermanos e cheguei a conclusão de que todo esse álbum é o retrato fiel da solidão.




Faixas:

Todo carnaval tem seu fim
A Flor
Retrato pra Iaiá
Assim será
Casa pré-fabricada
Cadê teu suín-?
Sentimental
Cher Antoine
Deixe estar
Mais uma canção
Fingi na hora rir
Veja bem meu bem
Tão sozinho
Adeus você


O Bloco do Eu Sozinho mistura rock, pop, samba, música circense e lirismo como nunca uma outra banda de rock havia feito. Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo com seus vocais melódicos, esbravejando melancolia, são uns dos melhores compositores do cenário musical atual made in Brazil.

ÁLBUM INTERNACIONAL: The Wall - Pink Floyd



Faixas

Disco 1

1. In The Flesh?
2. The Thin Ice
3. Another Brink In The Wall
4. The Happiest Days Of Our Lives
5. Another Brick In The Wall
6. Mother
7. Goodbye Blue Sky
8. Empty Spaces
9. Young Lust
10. One Of My Turns
11. Don´t Leave Me Now
12. Another Brick In The Wall
13. Goodbye Cruel World


Disco 2

1. Hey You
2. Is There Anybody Out There?
3. Nobody Home
4. Vera
5. Bring The Boys Back Home
6. Comfortably Numb
7. The Show Must Go On
8. In The Flesh
9. Run Like Hell
10. Waiting For The Worms
11. Stop
12. The Trial
13. Outside The Wall


The Wall foi lançado em 1979 e mostra uma presença maior do Roger Waters na banda, com conotações auto-biográficas e versando sobre a solidão e sobre o domínio das instituições (escola, família, governo, indústria musical) sobre os indivíduos. Foi lançado também em forma de um filme de mesmo nome. Um disco excepcional, extremamente crítico e bonito musicalmente.

TRILHA SONORA: Um estranho no ninho



Faixas

1. One Flew Over The Cuckoo's Nest (opening theme)
2. Medication Valse
3. Bus Ride To Paradise
4. Cruising
5. Trolling
6. Aloha Los Pescadores
7.Charmaine
8. Play The Game
9. Last Dance
10. Act Of Love
11. Jingle Bells
12. One Flew Over The Cuckoo's Nest (closing theme)


A trilha sonora desse filme excepcional transborda sentimentos como melancolia, incompreensão, solidão e de uma tristeza imensurável. Juntamente com a trilha de Requiem para um sonho, encaixa-se mais do que perfeitamente em cada detalhe do filme. Destaques para o tema de abertura e para o tema final... Triste e libertador...


Digno de nota: OK Computer do Radiohead (Cada música fala de um dilema e até de um pesadelo, de pânico e de receio, de amor e de solidão)


Poema do dia:

"Mas eu não tive os dias de ventura
Dos sonhos que sonhei:
Mas eu não tive o plácido sossego
Que tanto procurei.(...)
Tive as paixões que a solidão formava
Crescendo-me no peito
Tive, em lugar de rosas que esperava,
Espinhos no meu leito."

(Junqueira Freire)




HASTA!

As várias nuances da solidão (parte 3)

HOLA!


A SOLIDÃO NOS DIÁLOGOS CINEMATOGRÁFICOS




01- Olá, parede!... O que há de errado nisso? A vizinha da terceira casa conversa com o microondas...
(Pauline Collins em "Shirley Valentine"(1989))

02- Lydia Harris: Eu preciso me preocupar com você, Bob?
Bob: Somente se você quiser.
(Esposa do ator Bob (Bill Murray) durante uma conversa por telefone com ele em Encontros e desencontros.)

03- Eu não sei se minha mulher me deixou por causa da bebida ou se comecei a beber porque minha mulher me deixou.
(Ben Sanderson (Nicolas Cage) em Despedida em Las Vegas.)

04- Nossa geração não teve a Grande Depressão, não teve uma grande guerra. Nossa guerra é uma guerra espiritual. Nossa depressão é nossas vidas.
(Tyler Durden (Brad Pitt) em Clube da Luta)

05- Os dias prosseguem... e nunca terminam... Toda minha vida precisou de um sentido de algum lugar para ficar... Solidão me segue por uma vida inteira...
(O taxista e veterano de guerra Travis Bickle (Robert De Niro) vagueando durante a madrugada por uma Nova York suja, repleta de miséria, violência e prostituição.)


Digno de nota: "Tenho procurado uma garota todas as noites de sábado da minha vida" (Marty (Ernest Borgnine) no filme homônimo)





A SOLIDÃO ATRAVÉS DAS PALAVRAS





01- "Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra." (Rainer Maria Rilke)

02- "A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais." (Arthur Schopenhauer)

03- "As pessoas são solitárias porque constróem paredes em vez de pontes." (Joseph F. Newton)

04- "Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite" (Clarisse Lispector)

05- "O falso amor de si mesmo transforma a solidão em prisão." (Nietzsche)


Poema do dia:

"Uma maior solidão
Lentamente se aproxima
Do meu triste coração.

Enevoa-se-me o ser
Como um olhar a cegar,
A cegar, a escurecer.

Jazo-me sem nexo, ou fim...
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim."

Fernando Pessoa



HASTA!




Update: Comprei o DVD de Marty hoje...


setembro 06, 2004

As várias nuances da solidão (parte 2)


HOLA!


A SOLIDÃO NAS ARTES PLÁSTICAS


01- Noite Estrelada - Van Gogh



Van Gogh pintou esse quadro quando estava no asilo para doentes mentais em Saint Remy, local este para onde foi depois do famoso episódio em que ele arrancou a orelha. Estava muito solitário...Imensas estrelas... Um homem mais próximo do céu do que da terra... A cidade lá embaixo tão distante e o céu tão perto e apesar de toda essa solidão expressa, é um quadro extremamente pacífico... talvez pelo símbolo Ying-Yang bem no meio formado por nuvens quase que fantasmagóricas...

Sobre Van Gogh: Mestre do Expressionismo, esse holândes durante os 37 anos de sua angustiada vida, expressou seu desequilíbrio mental em extraordinárias pinturas em cores vivas e pinceladas geniais. Em 1888, começou a sofrer ataques psicóticos e durante uma internação, depois de ter uma discussão com seu amigo Paul Gauguin, cortou parte da orelha. Passou a maior parte de seus últimos anos em clínicas para tratamento mental e finalmente, após um surto de criatividade quando pintou 70 quadros em algumas semanas, deu um tiro no próprio estômago, vindo a falecer dois dias depois.

"Nós não vivemos mais, somos vividos. Não temos mais liberdade, não sabemos mais nos decidir, o homem é privado da alma, a natureza é privada do homem...Nunca houve época mais perturbada pelo desespero, pelo horror da morte. Nunca silêncio mais sepulcral reinou sobre o mundo. Nunca o homem foi menor. Nunca esteve mais irrequieto. Nunca a alegria esteve mais ausente, e a liberdade mais morta. E eis que grita o desespero: o homem pede gritando a sua alma, um único grito de angústia se eleva do nosso tempo. A arte também grita nas trevas, pede socorro, invoca o espírito: é o expressionismo." (Hermann Bahr - 1916)


02- O Grito - Edward Munch



Melhor expressão da solidão, da dor e do desespero de se sentir sozinho.

Sobre Edward Munch: Também grande destaque do Expressionismo, muitos até hoje divagam os porquês do seu quadro mais famoso. Munch deixa claro em uma passagem do seu diário que “O Grito” nasceu de uma experiência que ele teve enquanto caminhava perto de Christiania (agora Oslo) durante o pôr-do-sol. “De repente o céu ficou avermelhado...as nuvens como sangue e línguas de fogo acima do lago azul e da cidade...e eu fiquei sozinho, tremendo de ansiedade...eu senti um grande grito interminável emanando da natureza"...

03- O beijo - Gustav Klimt



Será que existe solidão acompanhada? Às vezes sentimo-nos levados pela correnteza, andamos sem saber por onde, transformamo-nos em seres rastejantes, definitivamente entramos no controle remoto. Acomodamos com o cotidiano, com a rotina e a chama da essência a cada dia se apaga mais e olhamos no espelho à procura do alguém que um dia fomos. "O Beijo" é uma obra decorativa deslumbrante, uma fusão de duas figuras numa só. É um símbolo fascinante da "perda do eu" que os amantes experimentam. Só os rostos e as mãos deste par são visíveis; todo o resto é um grande turbilhão dourado, cravejado de retângulos coloridos, como se Klimt quisesse exprimir em termos visuais a explosão física e emocional do amor erótico.

Sobre Gustav Klimt: Grande nome da pintura na Áustria e representante do Simbolismo, apesar de ser muito censurado pela sociedade conservadora da sua época, ilustrou muito bem a beleza feminina e suas nuances, trabalhando em uma estética de prazer e erotismo de uma sociedade neurótica, hipócrita e frequentemente mórbida.

04- Mulher com uma sombrinha - Monet



Esse quadro foi em homenagem a sua primeira esposa Camille. Na verdade, foram pintadas duas versões: uma delas com Suzanne, filha de sua segunda esposa. Mas, segundo livros sobre Monet, quando ele pintou Suzanne, estaria pensando na primeira mulher, Camille, que havia pintado numa pose semelhante há uns 10 anos.
À primeira vista tão simplório, mas se aprofundarmos nos seus detalhes... O rosto imperceptível da mulher, o vento e o campo retratam certos sentimentos guardados que querem se expressar... Sentimo-nos às vezes como ela, conduzida por esse vento, à mercê do destino ou somos nós mesmos que o traçamos? A solidão nos cerca um momento ou outro, enfrentamo-na ou a aguardamos de braços cruzados sua chegada inevitável? Façam suas escolhas...

Sobre Monet: Pai do Impressionismo, queria captar com diversas cores os efeitos mais fugazes da natureza, além do efeito da luz e do movimento das águas. Sofreu bastante com a miséria em que vivia e pela falta de notoriedade pelo público e crítica. Após longos anos de uma vida sem recursos, conseguiu o almejado sucesso, mas sem a presença da sua amada Camilla, vitimada pela tuberculose. Dedicou-se a construir grandes jardins, que se tornaram fontes inspiradoras de inúmeras de suas obras.

05- No vento e na terra - Iberê Camargo



Muitos confundem solidão com estar só, confundem que está restrita à ausência de um amor ou à sua rejeição. Solidão é muito mais abrangente. Adora a companhia das amigas melancolia, desilusão,fracasso, frustração, tristeza e da mais real de todas, a doença. Doença da alma que corrói os pensamentos, aflige o peito,que faz dos neurônios ovos mexidos. Doença do corpo que carrega a alma junto, diminuindo o ar dos pulmões, o sangue das artérias e veias, o coração descompassa, perdem-se os sentidos, as pernas não nos guiam mais... Perdemos o brilho dos olhos, o sorriso maroto, ficam-se as marcas,rugas e cicatrizes... Tornamo-nos seres isquêmicos de família, de amor e amizade... Passamos a viver em um mundo virtual e finalmente deitamos na relva macia e acolhedora para sempre.

Sobre Iberê Camargo: Representante tupiniquim do meu TOP5 e tão importante quanto os outros citados, foi um dos grandes nomes da arte do século XX. Dono de uma sensibilidade extrema, foi reconhecido pelos seus carretéis, ciclistas e idiotas, e por não se prender a nenhum movimento artístico, apesar de um quê de expressionismo nos seus quadros.

Através dos carretéis, percebemos uma nítida idealização da sua infância. Os ciclistas foi uma fase iniciada após uma tragédia. De gênio forte, Camargo foi abordado na rua por um assaltante, discutiram verbalmente e portando-se de uma arma, sacou-a e matou o meliante. Foi preso em flagrante, mas posteriormente libertado por legítima defesa. Contudo, foi massacrado pela mídia e todos se afastaram do seu convívio.

Dominado por um sentimento de solidão e abandono, voltou para o seu Rio Grande do Sul e do convívio intenso nos parques da cidade com seus frequentadores, principalmente ciclistas, surgiu sua fonte inspiradora. Velozes e muitas vezes sem metas, a não ser pedalar, os ciclistas personificam um pouco do sentimento do próprio artista. Compara-os a si mesmo e revela: "Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado. Minha bagagem são os meus sonhos. Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza"

Por fim, As idiotas é o próprio reflexo do final da sua vida, depauperado pelo câncer. Aquelas caras feias, sem graça, com os olhos perdidos no horizonte, sentados nos banquinhos da pracinha esperam a vida passar, até que a morte os chame. Ele mesmo dissera certa vez "As figuras que ora povoam os meus quadros (elas mesmas são os quadros) nascem da saga, da vida que dói. Elas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dis dias de minha infância, guri criado na solidão da campanha do Rio Grande do Sul". Iberê transformou essas figuras disformes em seus alter-egos, refletindo a solidão, o medo do fim e da morte, a ação erosiva do tempo.


Poema do dia:

"Minha alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

E, como rola que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas."
(Casimiro de Abreu)



HASTA!


setembro 04, 2004

As várias nuances da solidão (parte 1)


HOLA!

Segundo consta no Aurélio, solidão é do latim solitudine, através de solidoe,s. f., estado de quem está só; lugar ermo, solitário.

Todos nós saboreamos sadicamente essa dor lancinante. A humanidade adora a auto-comiseração, não aproveita o momento de introspecção, o fato de estarem sós, conhecendo melhor a si mesmos e torna o momento uma tortura interminável. Como todos já sentimos ou sentiremos solidão em alguma época nas nossas vidas, resolvi descrevê-la através das músicas, das artes plásticas, da literatura com seus poemas, prosas e frases e através do cinema. Já que o tema é bastante amplo, vou escrevendo paulatinamente.

Como sou notadamente prolixa, vou colocar 5 exemplos da solidão intrínseca na artes e dissecá-los.


A SOLIDÃO NO CINEMA


01- O anjo exterminador



Obra-prima do mestre Buñuel, maior exemplo do cinema surrealista. O filme conta a história de um grupo de pessoas que se reunem em uma mansão, e ficam presos dentro da sala sem saberem como sair,sendo que a porta para a rua está apenas alguns passos adiante.

É uma crítica voraz à burguesia e seus falsos moralismos, serve como um laborátorio humano, onde somos espectadores das farsas, dos falsos sentimentos, das máscaras, da obscuridade de suas verdadeiras personas. As máscaras e convenções sociais começam a ruir, revelando a falsidade e podridão de cada pessoa.

Mas Anjo Exterminador também é um filme sobre a solidão. Seus personagens não conseguem conviver entre si por um longo período e não conseguem ficar sozinhos. São seres divididos, desunificados, verdadeiros cacos humanos que se misturam para tentar suportar a própria existência.

O Anjo Exterminador é um daqueles filmes para toda a vida e citando Buñuel "Vivo muito bem com minhas contradições".


02- Encontros e desencontros



Este filme é um tratado sobre a solidão, sobre a imcompreensão dos sentimentos... Tóquio está mais perto do que pensamos, pode não ter todo aquele barulho infernal dos games, aquela luminosidade absurda, mas todos têm a mesma carinha, são apenas almas perabulando ao nosso redor ou sou eu a alma penada?

Belíssimo filme sobre a incomunicabilidade nos relacionamentos. Sobre isolamento. Sobre a solidão e um amor puro que não pode ser maculado pelo sexo. Aspectos tão comuns na vida de qualquer mortal mas que no filme, ironicamente, só serão decodificados e compreendidos por uns poucos (ignorem opiniões como 'lento', 'fala sobre o nada', 'não chega a lugar nenhum'). Obra prima da sutileza, um retrato da insatisfação com a própria realidade, mesmo quando essa realidade é abundante em elementos que servem de forma plena a qualquer pessoa. Retrata o vazio existencial, o 'plus' que faz a vida de todos nós ter sentido. Felizmente o filme não fala qual é o 'plus'. Isso varia de expectador pra expectador.

Quem nunca se sentiu sozinho e inaudível de forma tão profunda, mesmo cercado de diversas coisas que tornaria qualquer pessoa feliz (o que é o caso dos personagens do filme), certamente não vai se identificar com o filme MESMO!!!!

Menção honrosa para o beijo mais sincero, puro e delicioso dos últimos anos na história cinematográfica...


03- As horas



Em pleno Carnaval, enquanto deveria estar pulando feliz da vida atrás de um trio-elétrico, consegui diferir um golpe dentro da minha própria ferida. Apesar de estar lá, estava secretamente camuflada, mas foi iniciar a projeção do filme e me ver através de uma mulher que deixou escapar o amor de sua vida ou que esconde sua vulnerabilidade através de máscaras , ou vegeta em um cotidiano tipicamente comum, frustrante, seguindo com apatia uma vida que não é a sua, acomodada, perdida ou sufocada com a monotonia diária. O tempo não passa para os que sofrem, arrasta-se, pesando e prolongando a dor.

O filme não fala exatamente da solidão, mas esta tem uma linha bastante tênue com a depressão e citando uma frase que Virginia Woolf disse para seu marido durante o filme "Eu luto sozinha contra a escuridão, na mais profunda escuridão, e só eu sei o que isso significa. Só eu posso entender minha condição. Você vive sob a ameaça de minha extinção. Eu também vivo sob esta ameaça". Estamos de peito aberto e o vento ecoa no vácuo das nossas vidas, mas até quando? Até gritarmos por socorro? Ou apagarmos os olhos para as rosas e espinhos das nossas vidas?


04- Brilho eterno de uma mente sem lembranças



Ontem revi o filme e reitero todas as minhas palavras sobre ele. Algo que notei mais precisamente foi a insegurança da Clementine. É a chave de tudo. É o ponto de partida para sua impulsividade, sua imaturidade, seu descontrole emocional. Em certo momento, Joel chega para ela e fala "Comunicar não é falar muito". A incompreensão nos leva a sentirmos só, numa sensação muito mais gélida que aquele lago onde deitam.

Outro fato que também visualizei melhor é que na tentativa frustrada de não erradicar de si as memórias relacionadas a Clementine, Joel encontra a si mesmo e se descobre.

Como diz Vinícius de Morais no seu tão conhecido SONETO DE FIDELIDADE, "Quem sabe a solidão, fim de quem ama..." e o filme destrincha a solidão pelo término do relacionamento através do olhar tristonho de ambos, do sofrimento inexplicado de uma mente sem lembranças, da vontade absurda de berrar e chorar diante do buraco negro que é suas vidas. E chego a uma conclusão, podem apagar nossas memórias, mas nossos sentimentos nunca, porque de uma forma ou de outra, vamos trilhar o mesmo caminho de outrora. Quando a Clementine fala para o Joel que ele queria ficar com ela apenas como uma redenção para as suas falhas, procurando a paz nela, uma pergunta memorável é feita por Clementine: "Te saquei, né?" Daí ele responde: "Você sacou a humanidade inteira". Esta é a síntese e o espírito do filme.

Ao ver Brilho Eterno novamente, veio no meu pensamento uma música do Radiohead, Black Star, e ela se encaixa perfeitamente nessa pequena obra-prima.

"Eu chego em casa do trabalho e você ainda está de camisola
O que é que eu posso fazer?
Conheço todas as coisas na sua cabeça
E o que elas fazem com você
O que vai acontecer conosco?
O que vamos fazer?

Culpe a estrela negra
Culpe o céu que cai
Culpe o satélite que me guia para casa

As palavras perturbadas de uma mente perturbada tento compreender
O que está te consumindo
Tento me manter acordado mas fazem 58 horas desde a última vez que dormi com você
O que vai acontecer conosco?
Eu simplesmente não sei mais

Culpe a estrela negra
Culpe o céu que cai
Culpe o satélite que me guia para casa

Tomo o trem e fico só de pé,
Agora que eu não penso em você
Tenho que me esforçar para não desmaiar quando vejo uma face como a sua
Aonde eu vou chegar?
Eu vou me fundir"



05-A ostra e o vento



Obra-prima injustiçada do cinema nacional... "História envolta em lirismo e mistério, onde o mar e o vento são os principais personagens. Velhos marinheiros, tragédias, amores e naufrágios vão e voltam como ondas. A solidão humana em contraste com a imperturbável natureza que a cerca..."

Somos apresentados à jovem Marcela (Leandra Leal), seu pai protetor, o faroleiro José (Lima Duarte) e o velho Daniel (Fernando Torres). Em meio a esta solidão, e a este clima, Marcela torna-se adolescente, descobre seu corpo, o sexo, e sente necessidade de amar. Sozinha, incomunicável com jovens de sua idade, de imaginação fértil e desenvolvida pelas lições de Daniel, acaba criando Saulo. Este ser fictício vai adquirindo tal realidade que domina a moça imaginosa, os dois velhos e a própria ilha.

Tal é a intensidade de necessidade de afeto sentida por Marcela, e tal é a realidade que empresta a Saulo, que é capaz de criar (mentalmente) relações sexuais com ele, de senti-lo em si. Criando Saulo, Marcela cria também na ilha um clima psicológico extremamente intenso, irreal, que acaba dominando o pai, Daniel e a própria ilha. Imperdível!!!


Dignos de nota: Central do Brasil, Embriagado de amor, O agente da estação, Edward, mãos de tesoura, Marty, Minha vida sem mim, Requiem para um sonho, Taxi Driver, Perdidos na noite, Náufrago, Fale com ela, A.I., O diário de Bridget Jones (mesmo com enfoque claramente divertido).

Poema do dia:

"Deus costuma usar a solidão para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva, para que possamos compreender o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio, quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa doença, quando quer nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo para nos ensinar sobre água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer nos mostrar a importância da vida".


Fernando Pessoa


HASTA!